O DN divulga um trabalho, “Redes Sociais em Práticas de Delinquência Juvenil: Usos e Ilícitos Recenseados na Justiça Juvenil em Portugal”, realizado por Maria João Leote em que se analisaram 201 processos tutelares educativos.
Em 26 % dos 354 factos provados foram usadas
as redes sociais. A utilização das redes sociais é mais frequente nos crimes
contra pessoas, 79,3% das situações, e envolve sobretudo raparigas e com menor
peso em crimes contra o património, 18,4% em que são os rapazes que mais
recorrem à redes sociais.
Na utilização das redes sociais
para práticas comportamentos offline, o ilícito mais frequente é a ofensa à
integridade física, 35,8% do total em que predominam as raparigas o que se acentua
nas situações mais graves, ofensa à integridade física qualificada.
Estes indicadores, inquietantes na
sua globalidade, são algo surpreendentes no que respeita ao comportamento das
raparigas embora mostrem uma tendência que se tem vindo a evidenciar-se.
Por outro lado, dados que têm
sido divulgados, pela PSP e pelo MAI também mostram sinais preocupantes, a actividade
delinquente de grupos de jovens tem vindo a aumentar, a envolver adolescentes
cada vez mais novos e mais raparigas. Verifica-se também o abaixamento da idade
dos envolvidos.
Este cenário que merece reflexão
e, sobretudo, acção leva-me a insistir em duas ou três notas que retomo de
reflexões anteriores.
Os estilos de vida, as exigências
de qualificação têm tornado gradualmente a escola mais presente e durante mais
tempo na vida de crianças e adolescentes e, consequentemente, com reflexos na
educação em contexto familiar.
Creio que já dificilmente se
entende que a “família educa e a escola instrói”.
Creio que já dificilmente se
entende que a escola forma “técnicos” e não cidadãos, pessoas, com
qualificações ao nível dos conhecimentos em múltiplas áreas. Aliás, se bem
repararem falamos de sistemas de educação e não de sistemas de ensino e ainda
bem que assim é.
Creio que já dificilmente se
entende que o conhecimento é asséptico. O conhecimento, a sua produção e a sua
divulgação, tem, deve ter, sempre um enquadramento ético e não é imune a
valores.
Creio que os tempos mais recentes
são elucidativos de como a abordagem de matérias como Direitos Humanos;
Igualdade de Género; Interculturalidade; Desenvolvimento Sustentável; Educação Ambiental;
Saúde; Sexualidade; Media; Instituições e Participação Democrática; Literacia
Financeira e Educação para o Consumo; Segurança Rodoviária; Risco,
Empreendedorismo; Mundo do Trabalho, Segurança defesa e paz, Bem-estar animal e
Voluntariado são fundamentais ao longo do processo de formação de crianças,
jovens e adultos.
Nas sociedades contemporâneas um
sistema público de educação com qualidade, desde há muito de frequência
obrigatória e progressivamente mais extenso, é uma ferramenta fundamental para
a promoção de igualdade de oportunidades, de equidade e de inclusão. Uma
educação global de qualidade é de uma importância crítica para minimizar o
impacto de condições sociais, económicas e familiares mais vulneráveis.
Para além dos dados referidos e relativos
à delinquência juvenil, são também preocupantes indicadores relativos à
violência relativos à violência nas relações de namoro entre jovens, sendo que
muitos a entendem como “normal”, tal como inquietam o volume de episódios de
bullying, ou os consumos de álcool ou droga.
Parece-me importante que as
matérias integradas na "Educação para a Cidadania" integrem o
trabalho desenvolvido na educação em contexto escolar. Com o mesmo objectivo
será importante o desenvolvimento de programas de natureza comunitária
envolvendo diferentes áreas das políticas públicas.
Precisamos e devemos discutir
sempre como fazer, com que recursos e objectivos e promover a autonomia das
escolas, também nestas questões. Por outro lado, não acredito na
“disciplinarização” destas matérias, julgo mais interessantes iniciativas
integradas, simplificadas e desburocratizadas em matéria de organização e
operacionalização.
Sabemos que a prevenção e
programas de natureza comunitária, socioeducativa, têm custos, mas importa
ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores da pobreza,
exclusão, delinquência continuada e da insegurança.
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