A divulgação por parte do CNE do seu relatório anual sobre a educação em Portugal, agora o “Estado da Educação 2021”, tal como outros trabalhos veio reforçar a evidência de que a educação atravessa uma situação insustentável, aquilo a que numa linguagem habitual nesta altura se pode designar por alerta vermelho.
Os problemas são de diferente natureza, mas os que afectam os
professores são graves, explicam o processo de reivindicação em curso e tornam urgente um caminho de entendimento que muitas
vezes aqui tenho reforçado.
Desculpem a insistência, mas a questão é grave. Também sei
que não é por muito falar num problema que ele se resolve ou minimiza., mas é preciso insistir
Como tenho escrito, muitos dos problemas dos professores
são também problemas nossos. É importante que os conheçamos, sem demagogia ou
preconceito, e possamos exigir a atenção que merecem.
O quadro já conhecido e agora sublinhado pelo CNE é de facto
muito grave. Nesta altura do ano escolar continuam a faltar professores em
muitas turmas e as dificuldades de recrutamento são crescentes mesmo
recorrendo, em algumas situações, à contratação de pessoas sem formação para a
docência.
Acentua-se o envelhecimento da classe docente e o previsível
número de aposentações a curto médio prazo agravará o cenário.
Acrescem os efeitos da mobilidade por doença, a baixa
capacidade de atracção pela carreira nos jovens que chegam ao ensino superior
nos anos mais recentes. Por outro lado, existem múltiplos aspectos relativos à
carreira, modelo e avaliação, mobilidade e contratação, valorização salarial e
social, com implicações devastadoras nos projectos de vida muitos professores
quando uma carreira valorizada deveria constituir um projecto de realização.
Lamentavelmente não é nada de novo, há anos que sucessivos
relatórios nacionais e internacionais têm alertado para gravidade do
envelhecimento da classe docente, dos efeitos associados, e da certeza da falta
de docentes a curto prazo como já está a acontecer. Algumas notas repescadas.
O envelhecimento da classe docente não é um problema
exclusivo do nosso sistema, mas é particularmente grave sendo que alguns países
também afectados têm iniciativas já em desenvolvimento no sentido de o
minimizar o que não parece acontecer entre nós.
Ao perfil dos docentes em termos de idade acresce que, como
é reconhecido em qualquer país, a profissão docente é altamente permeável a
situações de burnout, estado de esgotamento físico e mental provocado pela vida
profissional, frequentemente associado a níveis pouco positivos de satisfação
profissional.
Na verdade, este cenário só pode surpreender quem não
conhece o universo das escolas, como acontece com boa parte dos opinadores que
pululam na comunicação social e dos comentários nas redes sociais dirigidos à
educação e aos professores.
Também se sabe que as oscilações da demografia discente não
explicam a saída de milhares de professores do sistema, novos e velhos, como
também não explicam a insuficiente renovação, contratação de docentes novos.
Sem estranheza, no universo do ensino privado é bastante superior a presença de
docentes mais jovens, mas também se sente a falta.
Não esqueçamos ainda a deriva política a que o universo da
educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído
permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de
alunos, pais e professores. Acresce que sucessivas equipas ministeriais têm
desenvolvido políticas que contribuem para a desvalorização dos professores com
impacto evidente no clima das escolas e nas relações que a comunidade
estabelece com estes profissionais. Este cenário revela uma das dimensões mais
frágeis das políticas públicas de educação nos últimos anos em que sempre se
insistia na narrativa dos professores a mais com resultados que estão à vista.
Sabemos que os velhos não sabem tudo e os novos nem sempre
trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer grupo profissional exige
renovação por diferentes razões incluindo emocionais, de suporte, partilha de
experiência ou pela diversidade.
Parece clara a necessidade urgente de definir uma resposta
oportuna e consistente a este trajecto.
Sabemos que os sistemas educativos com melhor desempenho são
também os sistemas em que os professores são mais valorizados, reconhecidos e
apoiados.
Não parece difícil perceber porquê.
2 comentários:
Tudo dito e bem!
Isso!
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