Para não falar dos problemas dos professores que também são problemas nossos, são construtores dos nossos futuros, uma história da escola onde esses futuros se alicerçam.
Um destes dias, a Professora Graça, nova na escola e que tem
um grupo do primeiro ano, encontrou o Professor Velho, o que está na biblioteca
e fala com os livros, na sala de professores. Para não variar estava de volta
do chá e, claro, sempre pronto para a conversa.
Posso sentar-me uns minutos?
Claro Graça, que tal achas a escola?
Simpática, bons colegas e com boas condições. Os miúdos
arrumadinhos e com vontade de crescer, sabendo. Ainda é um bocadinho cedo, mas
convém estar atenta desde o início e o Rafael intriga-me um pouco. Velho,
conheces o gaiato? Aqui não usam muito, mas lá no Alentejo é assim que falamos.
Não conheço o Rafael, o gaiato como lhe chamas, ele não
estava no Jardim de Infância aqui da escola. Que te intriga?
A qualquer coisa que eu peça ou sugira ao Rafael para
fazer, diz de imediato que não sabe ou não é capaz. Dificilmente e só estando
muito por perto a incentivar é que faz qualquer coisa, sempre a contragosto. O
que acho curioso é que, por vezes, se põe junto dos outros e dá dicas e ajudas
para eles fazerem as coisas. Quando lhe peço eu volta ao não sabe ou não é
capaz. Sabes o que me faz lembrar? Aquelas pessoas pouco amigas de trabalhar,
há muitas assim, que quando vêem alguém a trabalhar na rua juntam-se logo e
ficam por perto a assistir e a dar conselhos, palpites. Se lhes pedirem para
fazer alguma coisa desaparecem rapidamente.
Como te disse não conheço o Rafael, mas, desculpa por
isto, podes estar a ser um pouquinho injusta. Tenho encontrado miúdos como o
Rafael que ao responder que não sabem ou não são capazes de fazer o que se lhes
pede, estão a mostrar medo de não fazer bem, falta de confiança nas suas
capacidades, por isso fogem de fazer. Se estiveram ao lado de colegas, com
tarefas que não são suas, não se sentem ameaçados, por assim dizer e até
mostram que na verdade são miúdos capazes.
Não tinha pensado nisso. Mas como faço para perceber
melhor o Rafael?
Experimenta pedir-lhe que faça a coisa que melhor era
capaz de fazer quando estava no Jardim de Infância. Creio que ele não dirá que
não, vai fazer algo de bem feito o que te permite mostrar ao Rafael como ele é
mesmo capaz de fazer coisas bem feitas. A gente só aprende a partir do que já
sabe, não é do que ainda não sabe. De resto, como dizias há pouco, é preciso
estar atento e mostrar confiança no "preguiçoso" do Rafael.
Não precisas de te meter comigo, Velho. Até logo. Olha, o
teu chá deve estar frio.
Sem comentários:
Enviar um comentário