É sempre com forte inquietação que tomo conhecimento de episódios de vandalismo dirigidos a escolas. Qualquer tipo de comportamento desta natureza é sempre lamentável, acontecer com escolas é particularmente preocupante sendo que a dimensão de estragos deste último episódio na Escola Camilo Castelo Branco é impressionante.
Nada do que a seguir se escreve pretende branquear ou minimizar
este gesto delinquente que, como tal, deve ser punido e, tanto quanto possível,
prevenido. Do meu ponto de vista esta prevenção não passa só por um reclamado
aumento da vigilância sobre as instalações.
Do que se lê e ouve, não sei se sabe os autores são, ou foram,
alunos desta escola, mas não é raro que assim seja, aliás, o director da escola considera que os autores serão certamente conhecedores da escola.
Também se sabe que quando os autores de actos de vandalismo
contra escolas são actuais alunos ou ex-alunos dessas escolas trata-se de
alunos quase sempre com trajectórias de insucesso e abandono A escola é, por
assim dizer, a face do seu fracasso.
Não que esse fracasso seja culpa da escola. O insucesso
educativo envolve, evidentemente, a escola, mas também a qualidade das
políticas educativas em múltiplas dimensões, os recursos disponíveis, as
políticas sociais, as famílias que por negligência, impotência ou incompetência
também falham no seu papel, etc., etc.
Por princípio, ninguém mentalmente e educativamente
saudável, por assim dizer, vandaliza a sua casa ou um espaço percebido como
seu. Como diz Caetano Veloso, “quando a gente gosta, a gente cuida”. A questão que
é muitos alunos não percebem, não sentem a escola como sua e, como disse, é o
espelho de tudo o que não são.
Temos que caminhar neste sentido, reconstruir a relação de
alguns alunos com a escola.
Como já tenho escrito, seria muito interessante, mas não
passa, provavelmente, de um romantismo não compatível com a dureza crispada,
agressiva e feia, dos tempos e da vida actual, imaginar que a generalidade dos
miúdos e adolescentes quisessem fugir para a escola, não porque fugissem de
algo mau, o contexto familiar, por exemplo, e que em bom rigor e
lamentavelmente é por vezes tão mau que obriga a fugir, mas porque os miúdos
quisessem correr para a escola por nela se sentirem bem e não apenas nos
intervalos e com os amigos.
Para isso, tem que caber na escola mais do que currículos
fechados, extensos, normativos apenas direccionados para os saberes
estruturantes que frequentemente se revela incapaz de acomodar a diversidade dos
alunos. Temos que ser capazes de introduzir diferenciação de trajectos e de
ofertas não de natureza discriminatória, dirigida a “bons” ou dirigida a “maus”,
mas apenas que pela sua diferença possa atrair e ser adequada a … alunos
diferentes.
Como também escrevi, nos tempos que correm também muitos
professores, bons professores, mostram por cansaço ou desesperança que já não “fogem”
para a escola, um lugar de realização, de trabalho duro, mas com uma das
maiores compensações que se pode ter, ajudar gente pequena a ser gente grande.
O clima institucional, a burocracia, a deriva política foram, vão levando a que a escola não apeteça. Felizmente, muitos outros professores ainda conseguem fugir para escola, os alunos desses professores são gente com sorte.
Se não conseguirmos caminhar noutro sentido os episódios de vandalismo em escolas, de indisciplina e a delinquência infanto-juvenil dificilmente serão revertidas. Mesmo com aumento de vigilância e de dispositivos legais ou processuais de punição.
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