Foi divulgado o Relatório CASA – Caracterização Anual da Situação do Acolhimento de 2021. Alguns dos muitos dados conhecidos e que merecem atenção.
Foram identificadas quase 15 mil
situações de perigo identificadas das quais mais de 10 mil casos de
negligência, 70% do total. Foram identificadas 1.522 situações de maus tratos
psicológicos, 570 casos de maus tratos físicos e 413 situações referentes a
violência sexual.
Em 2021, 1439 jovens já estão em
casa de acolhimento há mais de seis anos. Apesar de se verificar um número mais
baixo de situações globais de acolhimento, 6129 em 2019, 5787 em 2020 e 5401 em
2021 o que se regista, em 2020 e 2021 aumentou o número de crianças e jovens em
acolhimento há mais de seis anos.
Continua a ser muito difícil compatibilizar
as opções assumidas por potenciais adoptantes com as crianças cuja situação poderia
passar pela adopção.
Entre tantos indicadores que
justificam reflexão, ainda uma referência ao percurso escolar das crianças e
jovens em situação de acolhimento, apenas 55% das crianças acolhidas frequentam
o ciclo de estudos correspondente à sua idade. A diferença acentua-se com a
idade, 88% das crianças entre os seis e os nove anos encontram-se no 1.º ciclo
e no secundário, entre os 15 e os 17 anos, a percentagem é de 39%.
Num tempo em que temos em
desenvolvimento duas iniciativas europeias, a Estratégia da União Europeia
sobre os Direitos da Criança e a Garantia Europeia para a Infância, traduzidos
em Portugal para a Estratégia Nacional para os Direitos das Crianças e Garantia
Nacional para a Infância, o caderno de encargos relativo à protecção e promoção
dos direitos de crianças e jovens continua pesado. Neste sentido, o texto de
Sónia Rodrigues no Público, “Respeito pelos direitos das crianças: precisamos de uma estratégia que dê garantias” justifica reflexão e, sobretudo,
operacionalização com recursos e objectivos
Apesar de alguma evolução temos ainda um
cenário complexo e excessivo em matéria de resposta institucionalizada a crianças e
jovens em situação de vulnerabilidade. É consensual que em nome do bem-estar das crianças e jovens seria
desejável que se conseguisse até ao limite promover a desinstitucionalização
das crianças por múltiplas e bem diversificadas razões.
Não está em causa questionar a
competência e o empenho dos técnicos cuidadores das estruturas de acolhimento
de diferente natureza, mas a necessidade de promoção da adopção ou de outros
dispositivos mais robustos, mais ágeis, sejam mais amigáveis para processos de
desenvolvimento, vinculação e construção de projectos de vida positivos.
Também deve acentuar-se o
trabalho de grande qualidade que muitas instituições procuram desenvolver. Além
disso, sabemos todos, que existem contextos familiares que por razões de ordem
variada não devem ter crianças no seu seio, fazem-lhes mal, pelo que a retirada
pode ser uma necessidade que o superior interesse da criança justifica sendo um
princípio estruturante das decisões neste universo.
Uma família é, de facto, um bem
de primeira necessidade.
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