É habitual que neste tempo entre o Natal e Ano Novo se proceda de diversas formas a um balanço do ano que acaba e se perspective o ano que vai chegar.
Parece claro que, em termos genéricos
2022, está marcado pelo abrandamento da situação pandémica, pela invasão russa
da Ucrânia e a situação dramática resultante, e pela fortíssima inflação que tem
vindo assombrar os nossos dias, em particular e como sempre, dos mais
vulneráveis.
Numa abordagem mais direccionada
para o mundo em que me movo, a educação, creio que o ano que está a terminar é
marcado pela situação que envolve os professores e as suas consequências. Num
caminho que começou em Maria de Lurdes Rodrigues temos vindo a assistir a uma
dimensão das políticas públicas de educação com impactos significativos e
negativos na profissão docente e nas pessoas que a desempenham que se interligam ou associam.
Sem hierarquizar ou esgotar vejamos alguns aspectos. Regista-se
a manutenção de um modelo de carreira, recrutamento e colocação de professores
ineficiente e produtor de injustiça, um modelo de avaliação também injusto,
incompetente e pouco transparente, a desvalorização salarial e social que se
associam a uma baixa atractividade pela carreia de professor, o previsível e
não acautelado envelhecimento dos professores e o consequente abandono, o
cansaço e desânimo sentido pelos docentes e sublinhado em muitos estudos, o
modelo de governança de agrupamento e escolas que se liga, embora não como única
variável, ao clima que se vive em muitas comunidades escolares, um caminho de “descentralização”/municipalização”
cheio de dúvidas e pouco claro, ou a burocracia excessiva que leva a uma “agitação
improdutiva” e, pior, cansativa e ineficaz.
Este contexto acaba,
naturalmente, por se tornar mais pesado e doloroso para os que gostam,
escolheram e querem ser e continuar a ser professores, a maioria dos docentes
apesar dos discursos de cansaço que regularmente se ouvem.
Neste cenário emerge uma outra
questão que me parece merecer registo, a recente mobilização reactiva de forma
muito significativa dos professores e tanto mais significativa, quanto emerge
fora, por assim dizer, da influência dos mais habituais “representantes” dos
professores.
Aquilo a que temos vindo assistir
recentemente e os discursos que se ouvem parecem sugerir que neste tempo de
balanço, também parece que algo de significativo estará a tomar balanço para
que já para o início do próximo ano e de forma substantiva tenhamos tempos
crispados no universo da escola em Portugal.
Espero que todos, designadamente
quem decide em matéria de políticas públicas, saibamos que aquilo que é
necessário é demasiado importante para que não seja feito e se devolva, tanto
quanto possível, a tranquilidade aos professores, às escolas, às comunidades
educativas.
A história não vos absolverá.
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