quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

EM BALANÇO E A TOMAR BALANÇO

 É habitual que neste tempo entre o Natal e Ano Novo se proceda de diversas formas a um balanço do ano que acaba e se perspective o ano que vai chegar.

Parece claro que, em termos genéricos 2022, está marcado pelo abrandamento da situação pandémica, pela invasão russa da Ucrânia e a situação dramática resultante, e pela fortíssima inflação que tem vindo assombrar os nossos dias, em particular e como sempre, dos mais vulneráveis.

Numa abordagem mais direccionada para o mundo em que me movo, a educação, creio que o ano que está a terminar é marcado pela situação que envolve os professores e as suas consequências. Num caminho que começou em Maria de Lurdes Rodrigues temos vindo a assistir a uma dimensão das políticas públicas de educação com impactos significativos e negativos na profissão docente e nas pessoas que a desempenham que se interligam ou associam.

Sem hierarquizar ou esgotar vejamos alguns aspectos. Regista-se a manutenção de um modelo de carreira, recrutamento e colocação de professores ineficiente e produtor de injustiça, um modelo de avaliação também injusto, incompetente e pouco transparente, a desvalorização salarial e social que se associam a uma baixa atractividade pela carreia de professor, o previsível e não acautelado envelhecimento dos professores e o consequente abandono, o cansaço e desânimo sentido pelos docentes e sublinhado em muitos estudos, o modelo de governança de agrupamento e escolas que se liga, embora não como única variável, ao clima que se vive em muitas comunidades escolares, um caminho de “descentralização”/municipalização” cheio de dúvidas e pouco claro, ou a burocracia excessiva que leva a uma “agitação improdutiva” e, pior, cansativa e ineficaz.

Este contexto acaba, naturalmente, por se tornar mais pesado e doloroso para os que gostam, escolheram e querem ser e continuar a ser professores, a maioria dos docentes apesar dos discursos de cansaço que regularmente se ouvem.

Neste cenário emerge uma outra questão que me parece merecer registo, a recente mobilização reactiva de forma muito significativa dos professores e tanto mais significativa, quanto emerge fora, por assim dizer, da influência dos mais habituais “representantes” dos professores.

Aquilo a que temos vindo assistir recentemente e os discursos que se ouvem parecem sugerir que neste tempo de balanço, também parece que algo de significativo estará a tomar balanço para que já para o início do próximo ano e de forma substantiva tenhamos tempos crispados no universo da escola em Portugal.

Espero que todos, designadamente quem decide em matéria de políticas públicas, saibamos que aquilo que é necessário é demasiado importante para que não seja feito e se devolva, tanto quanto possível, a tranquilidade aos professores, às escolas, às comunidades educativas.

A história não vos absolverá.

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