Foi divulgado o Relatório Final relativo às provas de aferição realizadas em 2022. Dado que este ano voltaram ao formato anterior à pandemia os dados são comparáveis com os de 2019. Apresento um quadro inserto no Público quando o ME divulgou os resultados ainda sem relatório final. Está organizado agregando a percentagem de alunos que respondeu de acordo com o esperado e de alunos que responderam de acordo com o esperado, mas que podem melhorar. Vejamos:
No 2º ano em Português, dos quatros domínios avaliados, apenas em um (“Escrita”) a percentagem de alunos que respondeu certo foi superior a 50% (52,9%) e em “Gramática” a percentagem foi de 21%.
Em Matemática no 2º ano todos os
domínios a percentagem de alunos a responder certo foi superior a 50% com o
valor mais alto em “Números e Operações”, 68,6%.
Considerando agora o 5º ano,
foram avaliados sete domínios em Matemática e Ciências Naturais apenas no
domínio “Unidade na diversidade de seres vivos” a percentagem de respostas
certas foi superior a 50%, 56,8%. Em “Números e Operações” verificou-se 11,6%
de respostas certas.
No 8º ano, dos quatros domínios
avaliados em Português, “Oralidade” e “Escrita” tiveram percentagem de acerto
superiores a 50% (84,5 e 70%) e “Leitura e educação literária” e “Gramática”
estiveram abaixo de 50% (40,7 e 31,1). Em História + Geografia 30% dos alunos
responderam adequadamente.
Em síntese pode ainda registar-se
que na maioria dos domínios avaliados se verificou subidas relativamente a
2019. No entanto, dos 19 em avaliação 12 mantiveram-se com percentagens de
resposta certa abaixo de 50%.
No início de Novembro o Ministro
da Educação considerou os “resultados moderadamente animadores” e elencou tudo
o que está em curso nas escolas, designadamente, designadamente no âmbito do
Plano 21/23 Escola + visando a recuperação das aprendizagens que está em
“surtir efeitos” ainda que com menor adesão por parte das escolas no ensino
secundário, questão que, naturalmente, está a ser resolvida através do Programa
Nacional de Promoção do Sucesso Escolar.
Agora, com o conhecimento do Relatório Final o Ministério em nota divulgada esta semana considera que os resultados” mostram uma “melhoria global”, "indiciam uma tendência de recuperação das aprendizagens”, que “abrange a maioria dos domínios curriculares aferidos”.
Recordo a síntese que fiz em cima, os resultados subiram em 13 dos 19 domínios avaliados o que registo, mas 12 destes domínios continuam com uma percentagem de resposta certa abaixo dos 50%, alguns deles bem abaixo, caso do 5º ano.
Como disse na altura em que os dados
foram divulgados, parece, pois, que a coisa parece caminhar no bom sentido, o Rolls Royce está a
andar tranquilamente, sem sobressaltos, e recordo a afirmação do Senhor
Ministro em Maio no 2.º Encontro Nacional de Autonomia e Flexibilidade
Curricular, “Já chega de pintar um retrato da escola portuguesa que não
corresponde à realidade. Parece que andam sempre à procura do que corre mal,
ignorando que, todos os dias, nas nossas escolas, há um milhão e 300 mil
crianças a aprender e 100 mil professores a ensinar, e que as coisas correm bem”.
Lamento Senhor Ministro, eu
obrigo-me a ser optimista, eu quero ver o copo meio cheio, registo o que melhorou,
tenho um neto no 1º ano e outro no 4º ano e quero muito acreditar que tudo vai
correr bem com eles e com os seus
companheiros de estrada. Mas não, o caderno de encargos é ainda muito pesado, recordo
que os dados relativos ao transitar de ano transitar de ano não parecem estar a
significar adquirir conhecimentos e competências, assim como os resultados das
provas de aferição e os indicadores de percursos de sucesso, não rimam.
Precisamos de políticas públicas
integradas e adequadas, recursos suficientes e competentes. Projectos,
iniciativas, inovação, actividades que, demasiadas vezes chegam do exterior às
escolas, podem ser interessantes …, mas não são mágicos por mais que num
exercício de "wishful thinking" os queiramos entender e vender como
tal.
Daí este meu cansaço.
Mas continuo optimista, não
desisto, não posso.
PS – Uma nota sobre a função das
provas de aferição que aqui já tenho abordado. A não existência de exames
nacionais no 4º e 6º ano colocou a imprescindível necessidade de dispositivos
externos de regulação que nos dessem “retratos” robustos e comparáveis dos
trajectos escolares.
Seria esta a função da
reintrodução das provas de aferição. Só que o modelo decidido não cumpre esta
função, não parece, de facto, uma avaliação de aferição. Dado que ainda não foi
alterada, a Lei de Bases do Sistema Educativo define que o ensino básico se
organiza numa lógica de ciclo e não de disciplina como o secundário.
Assim, uma avaliação externa de
aferição teria de ser realizada no ano final de cada ciclo e não nos anos
intermédios, 2º, 5º e 8º ano, os alunos estão a meio do seu caminho de um
ciclo.
A argumentação foi de que, realizadas nestes anos, a identificação de dificuldades e a devolução de resultados permitiriam a correcção de trajectórias futuras dos alunos. Certo, assim sendo e neste caso a avaliação não é de aferição, mas de diagnóstico. No entanto, espera-se que diariamente nas salas de aula os professores realizem, mais formal ou mais informalmente, avaliações desta natureza, mais formativa, pois é a mais sólida ferramenta que possuem de regulação do trabalho dos alunos e do seu próprio trabalho.
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