É inevitável, os dias iniciais de Dezembro são sempre envolvidos nas memórias do meu Pai, um Homem bom. Hoje contaria noventa e nove anos e há poucos dias passaram quarenta e sete desde que partiu. Parecem muitos anos, mas não foi há muito tempo, a unidade de medida do afecto e da saudade não tem um padrão, é a de cada um.
Partiu demasiado cedo, mas não partiu sem me mostrar o que
nunca viu, sem me ajudar a chegar aonde nunca foi.
Tanto que ficou por dizer e por viver.
Partiu numa altura em que acreditávamos que, finalmente,
tudo seria melhor, tudo seria possível, e tudo seria melhor e possível para
todos. Nos tempos de adolescência e juventude, quando nos sentíamos donos do mundo ou
quando sabia que me envolvia em algo que naqueles tempos negros poderia ter algum risco,
sempre me dizia, “Pensa por ti”. Não sei se pensei sempre bem, certamente não,
mas acho que tenho pensado sempre por mim.
Teria gostado de nos ver a fazer pela vida, eu e o meu
irmão. Havia de ter gostado de conhecer os netos e os bisnetos que tanto
certamente gostariam de o ter conhecido e ouvido as histórias que ele nos
contava, sempre inventadas.
Continuaria a ser porto de abrigo dos sobressaltos que
também fazem parte da vida da gente.
É verdade, tanto que ficou por dizer e viver.
Um dia destes vamos conversar todas as conversas que não
iniciámos e todas as conversas que não acabámos.
1 comentário:
Em 2023 vão passar 30 anos que o meu pai partiu mas ele está sempre comigo... obrigada pelas suas palavras tão genuínas e sinceras, revi me nelas.
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