domingo, 11 de dezembro de 2022

CONVERSAS INACABADAS

 É inevitável, os dias iniciais de Dezembro são sempre envolvidos nas memórias do meu Pai, um Homem bom. Hoje contaria noventa e nove anos e há poucos dias passaram quarenta e sete desde que partiu. Parecem muitos anos, mas não foi há muito tempo, a unidade de medida do afecto e da saudade não tem um padrão, é a de cada um.

Partiu demasiado cedo, mas não partiu sem me mostrar o que nunca viu, sem me ajudar a chegar aonde nunca foi.

Tanto que ficou por dizer e por viver.

Partiu numa altura em que acreditávamos que, finalmente, tudo seria melhor, tudo seria possível, e tudo seria melhor e possível para todos. Nos tempos de adolescência e juventude, quando nos sentíamos donos do mundo ou quando sabia que me envolvia em algo que naqueles tempos negros poderia ter algum risco, sempre me dizia, “Pensa por ti”. Não sei se pensei sempre bem, certamente não, mas acho que tenho pensado sempre por mim.

Teria gostado de nos ver a fazer pela vida, eu e o meu irmão. Havia de ter gostado de conhecer os netos e os bisnetos que tanto certamente gostariam de o ter conhecido e ouvido as histórias que ele nos contava, sempre inventadas.

Continuaria a ser porto de abrigo dos sobressaltos que também fazem parte da vida da gente.

É verdade, tanto que ficou por dizer e viver.

Um dia destes vamos conversar todas as conversas que não iniciámos e todas as conversas que não acabámos.

1 comentário:

Nicas disse...

Em 2023 vão passar 30 anos que o meu pai partiu mas ele está sempre comigo... obrigada pelas suas palavras tão genuínas e sinceras, revi me nelas.