Como sabemos de há muito, a qualificação através de percursos escolares bem-sucedidos constitui-se como uma potente ferramenta de promoção de desenvolvimento, das comunidades e dos indivíduos, bem como, naturalmente, da equidade e igualdade de oportunidades. Apesar da evolução que se tem registado o caminho a percorrer ainda é longo e difícil.
Foi divulgado o relatório do Júri Nacional de Exames relativo a 2021. Depois dos exames nacionais do seundário servirem
apenas como acesso ao ensino superior, o número de alunos abrangidos pala Acção
Social Escolar que os realizou baixou para cerca de metade, 15,3% que se compara com 29.6% em 2018.
Acresce que se considerarmos outras
formas de acesso ao superior, verifica-se no ensino profissional, dados da Direcção-Geral
de Estatísticas do Ensino Superior relativos a 19/20 mostram que 24% frequentavam
o ensino superior um ano depois, sendo que 76% desistiram. Considerando os
cursos científico-humanistas, 19% estavam a frequentar no ano seguinte, mas 81%
desistiram.
Num cenário em que se verifica o
aumento de alunos no ensino superior, incluindo alunos dos CTESP, Cursos
Técnicos Superiores Profissionais, leccionados nos Politécnicos, mas que não
conferem grau e cuja procura tem aumentado, é preocupante baixa representação de
alunos provenientes de agregados de menor rendimento, comprometendo seriamente
a desejada mobilidade social e a construção de projectos de vida bem-sucedidos.
Importa ainda considerar que,
apesar de ajustamento nos mecanismos de concessão de bolsas a frequência do
ensino superior é muito cara e ainda mais quando exige deslocação. As famílias
portuguesas continuam a ser das que mais têm de contribuir para que os seus filhos
frequentem o ensino superior pelo que as mais carenciadas sentem dificuldades.
Neste cenário, quando se entende
e espera que a educação e qualificação possam ter um papel decisivo na
minimização de assimetrias, as políticas, os recursos, os custos e a
dificuldade de acesso podem, pelo contrário, alimentar essas assimetrias e
manter a narrativa, "tal pai, tal filho", pai (mãe) letrado, filho
letrado e pai (mãe) pouco letrado, filho pouco letrado. Ainda me lembro da estranheza pela insistência dos meus pais, um serralheiro e uma costureira, na minha frequência do ensino superior, ainda que psicologia não fosse exactamente aquilo que sonharam. Sorte a minha pela insistência deles.
Assim sendo, são necessárias
políticas públicas para o médio prazo, estabelecidas com base no interesse de
todos, com definição clara de metas, recursos, processos e avaliação. Apesar de
algumas melhorias que se registam, a continuidade de alguns aspectos levará a
que daqui a algum tempo um novo estudo de dentro ou de fora venha dizer ... provavelmente
o mesmo.
A qualificação é a melhor forma
de promover desenvolvimento e cidadania de qualidade pelo que apesar de ser um
bem caro é imprescindível.
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