No Público lê-se que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior deu orientações às instituições de ensino superior que aumentem o número de vagas nas licenciaturas em Educação Básica que são exigidas para aceder à profissão docente no 1.º e 2.º ciclos do ensino básico. Esta orientação já terá efeito no despacho regulador na definição de vagas para o próximo concurso nacional de acesso, que será conhecido em breve.
A medida procura combater a falta
de docentes, mas creio que terá um impacto reduzido. Serão muitas poucas a
situações em que a procura de formação de acesso à docência supere a oferta. O
problema é da procura e não da oferta.
Como muitas vezes aqui tenho
escrito a falta de docentes, problema conhecido e reconhecido de há muito, resulta da incompetência de decisões em matéria de políticas públicas de
educação quando há muitos anos se conhecem estudos sobre a demografia dos
professores e se sabia … que os anos passam e chega a idade da reforma. As
causas remetem para a irresponsabilidade da narrativa dos “professores a mais”,
do “convite à emigração”, da condução de políticas que inibem a óbvia
necessidade de renovação de qualquer grupo profissional.
A carreira de professor deixou de
ser atractiva, mais uma vez, em consequência da gestão incompetente que
sucessivas equipas ministeriais fizeram desta matéria. Maria de Lourdes
Rodrigues ou Nuno Crato foram bons exemplos desta incompetência com resultados
desastrosos em matéria de carreira docente. Aliás, há pouco tempo Maria de
Lourdes Rodrigues a propósito desta matéria afirmou despudoradamente, “Não sei
como chegámos aqui assim. Não sei e não quero saber.” Mas nós sabemos as
consequências na desvalorização dos professores, na definição de modelos de
carreira inadequados (incluindo o estatuto salarial), de modelos de avaliação
injustos e incompetentes.
É isto e o mais que aqui não refiro
que tem tornado a profissão menos atractiva levando ao abandono e à aposentação
precoce de muitos docentes. O aumento da oferta de formação não altera este
cenário pelo qual existem responsáveis.
O que terá impacto ainda que de
imediato existam outras hipóteses é repensar a carreira docente desde o
recrutamento, o modelo de carreira, o modelo de avaliação e progressão, o
ajustamento e valorização do estatuto salarial dos docentes, a promoção da sua
valorização profissional e social ou a desburocratização do trabalho dos
professores, entre outros aspectos.
Importa sublinhar que também
sabemos que os sistemas educativos com melhor desempenho são também os sistemas
em que os professores são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.
É este cenário que, provavelmente,
aumentará a procura.
Sem comentários:
Enviar um comentário