sexta-feira, 3 de junho de 2022

O TEMPO DAS "EXPLICAÇÕES"

 É inevitável, a partir do terceiro período sobe exponencialmente a procura por “explicações”. Dado que não existem exames finais no 1 e 2º ciclo e no 9º se realiza uma prova final “que não conta para a nota” o recurso à “explicação” é sobretudo por alunos do secundário que se irão candidatar ao ensino superior.

Trata-se de facto de um mercado que apesar da pandemia parece de boa saúde e fomentador do empreendedorismo individual. Por outro lado, também contribui para acentuar as desigualdades sociais pré-existentes sem qualquer sobressalto por parte de quem é responsável por políticas públicas.

Na verdade, é um mercado generalizado como se pode verificar com um passeio pelas proximidades das escolas abundando a oferta de ajudas fora da escola, antes conhecidas por “explicações”, mas agora com designações mais sofisticadas como “Centro de Estudos”, “Ginásios”, etc., que, provavelmente, terão mais efeito “catch” no sentido de atingir o “target”. Ainda temos a oferta mais personalizada, as “explicações” no aconchego caseiro dos explicadores, numa espécie de atendimento personalizado. O mercado está sempre atento e o marketing desempenha um papel importante.

Apesar de nada ter contra a iniciativa privada desde que com enquadramento legal e regulação, o que está longe de existir, várias vezes tenho insistido no sentido de entender como desejável que os apoios e ajudas de que os alunos necessitam fossem encontrados dentro das escolas e agrupamentos. O impacto no sucesso dos alunos minimizaria, certamente, eventuais custos em recursos que, aliás, em alguns casos já existem dentro do sistema.

Esta minha posição radica no entendimento de que a procura “externa” de apoios, legítima por parte das famílias, tem também como efeito o alimentar da desigualdade de oportunidades e da falta de equidade como tem sido regularmente sublinhado em múltiplos estudos.

Neste contexto, recordo que no Relatório do CNE, "Estado da Educação 2016", constava um dado interessante  extraído do TIMSS de 2015 relativo a Portugal e que na altura comentei. Considerando apenas o secundário, 61% dos estudantes afirmam ter aulas particulares de Matemática no sentido de melhorar o desempenho nos exames. A comparação com outros países é elucidativa tanto mais se considerarmos o respectivo nível de vida, sendo a Noruega um exemplo extremo.

Também trabalhos realizados pelo CNE e pela Fundação Francisco Manuel dos Santos que evidenciam algo de muito significativo apesar de bem conhecido e reconhecido, nove em cada dez alunos com insucesso escolar são de famílias pobres.

A ajuda externa ao estudo como ferramenta promotora do sucesso não está ao alcance de todas as famílias, longe disso. Assim sendo, é fundamental que as escolas disponham dos dispositivos de apoio suficientes e qualificados para que se possa garantir, tanto quanto possível, equidade, igualdade de oportunidades e protecção dos direitos dos miúdos, de todos os miúdos.

De uma vez por todas, é necessário contenção e combate ao desperdício, mas em educação não há despesa há investimento.

1 comentário:

Sandra disse...

Será apenas só para alguns, porque existem muitos pais que não têm possibilidade de proporcionar esse acompanhamento aos filhos.