terça-feira, 21 de junho de 2022

QUALIFICAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO

 As referências à produtividade e competitividade no mercado de trabalho são constantes e entendidas como imprescindíveis ao nosso desenvolvimento.

Neste sentido e nos anos mais recentes, a busca de produtividade e competitividade tem assentado erradamente em abaixamento de salários, aumento da carga horária e flexibilização das relações laborais, isto é, na precariedade.

Os resultados não têm sido brilhantes como se sabe o que, de facto, não é surpreendente. Mais trabalho não significa melhor trabalho como muitos estudos e a análise de outras realidades, mesmo as de quem nos critica e impõe aquelas medidas, mostram.

Na verdade, existem factores menos considerados nas decisões políticas que desempenham um papel fundamental na produtividade e na competitividade. Os modelos de organização e funcionamento das empresas e instituições organização, ou seja, a qualidade das lideranças nos contextos profissionais são um relevante factor. O nível de desperdício no esforço, nos meios e nos processos em alguns contextos laborais é extraordinariamente elevado.

Relembro que os empregadores portugueses, sobretudo nas médias, pequenas e microempresas, as que asseguram a grande fatia dos postos de trabalho, possuem um baixíssimo nível de qualificação em termos europeus, excepção feita, evidentemente, a alguns nichos.

Em trabalho hoje divulgado, a edição de 2022 do estudo realizado pela Fundação José Neves, “Estado da Nação”, volta a evidenciar-se que continuamos a ter a maior percentagem de empregadores sem o ensino secundário completo, 47% sendo que a média europeia é de 16.4%.

Dados do mesmo relatório também mostram que, apesar das perdas salariais nos últimos anos, a qualificação continua a compensar no estatuto salarial.

Seria desejável que o Plano de Recuperação e Resiliência considerasse seriamente e com competência a qualificação profissional como eixo crítico da produtividade e desenvolvimento. Como tantas vezes afirmo, a qualificação é um bem de primeira necessidade ainda que seja caro.

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