terça-feira, 10 de maio de 2022

DA ONDA DE CAPACITAÇÃO

 Peço desculpa pela insistência. Continuo a dar conta da frequência com que recorremos à mudança de terminologia como instrumento de mudança acreditando que esta ocorre apenas porque a designação se altera.

Parece também ser verdade que cada novo termo é divulgado para ser, só por si, uma inovação e não existe área que em não se afirme a narrativa da inovação. Também é certo que os conhecedores de estratégias de comunicação, também conhecidas por marketing, sabem que alterando a designação de um “produto” pode impulsionar-se uma nova “vida” para esse produto.

Vem esta introdução a propósito da onda de “capacitação” que nos está a atingir, o mantra passou a ser capacitar. Em múltiplas iniciativas, institucionais ou privadas, há que capacitar tudo o que mexe, pois, aparentemente, mexe mal. Sem estranheza, nesta onda  navegam inúmeros surfistas que espalham a boa nova, em qualquer lugar e para qualquer bolsa

Vai daí, e só para me situar no universo que melhor conheço, a educação, desatamos a capacitar em todas as direcções.

Há algum tempo promovia-se formação de professores, uma das áreas em me tenho movido, mas, certamente devido aos maus caminhos seguidos, mea culpa, agora promove-se capacitação de professores em áreas sem fim e todas certamente da maior necessidade e pertinência.

Umas das áreas em alta na onda de capacitação é a área das “emoções”. Ao que parece e sem que nos déssemos conta durante décadas, as escolas são também geladas emocionalmente, a generalidade dos professores não sabe lidar com emoções, tal como alunos, os técnicos que estão nas escolas incluindo os funcionários. Dito da maneira actual, não estão capacitados.

Percebe-se, assim, que nos últimos tempos se tenha desencadeado uma onda de promoção, perdão, capacitação, nas escolas com a mobilização de imensos projectos e iniciativas de escala variável visando o desenvolvimento da inteligência emocional, da empatia, da Social-Emotional Learning (SEL) e outras designações. 

É obviamente importante registar o esforço no âmbito da formação, aliás, capacitação, dos profissionais da educação, mas, certamente por incompetência ou desconhecimento vou sentindo algumas reservas face a esta onda, que pela visão mágica com que parece ser informada, quer pela regular apresentação de um receituário ou programa que garante que se vai aprender a fazer o que nunca foi feito nas escolas, “lidar com as emoções” por exemplo, independentemente da formulação. Dito isto, sublinho que em muitas circunstâncias nos confrontamos com dificuldades neste domínio.

Estávamos habituados a dar aulas, a ensinar, a leccionar, mas agora capacitamos os alunos, ah, e já agora também é preciso capacitar os pais.

Aproveitando o “tsunami” de capacitação, também será importante capacitar as lideranças das escolas e todos os técnicos que nelas trabalham e, evidentemente, tal como os professores, promover essa capacitação em múltiplas áreas.

Sendo optimista, em pouco tempo teremos um sistema educativo totalmente capacitado

Só ficará mesmo a faltar, acho eu, a capacitação na promoção de diferentes dimensões das políticas públicas de educação.

Bom, agora vou voltar para um trabalho de auto-capacitação que estava a realizar, ler uns artigos sobre trabalhos recentes na minha área.

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