Em miúdo, mais miúdo é claro, o hábito de criar alcunhas era bastante frequente e acontecia a propósito das mais variadas razões. Muitas vezes a alcunha, seja pelo som, pela graça ou pela apropriada designação, entranhava-se na relação, substituía o nome e acontecia até que algum tempo depois já nem o recordamos. Foi o caso do Lesma, um colega de escola de quem já não lembro o nome, passou a ser o Lesma. A elegante designação foi-lhe pela primeira vez atribuída por um dos professores e dela nunca mais se livrou.
O Lesma foi a pessoa mais
vagarosa, mais tranquila, mais sem pressa que alguma vez conheci. Era o último
a chegar a qualquer lado, sempre com ar de quem era o primeiro e a tempo. Em
qualquer tarefa ou jogo, coisas da escola ou brincadeiras fora da escola o
Lesma era exasperante, sempre sem pressa, sempre o último.
Até a falar o Lesma era vagaroso,
demorava um tempo que nos parecia infindo a acabar uma frase que todos já
adivinhávamos.
Hoje em dia, a vida acelerou-se,
inventámos o stresse, o para ontem, o temos que fazer tudo e rápido, não
podemos perder tempo, etc., o tempo tornou-se um bem de primeiríssima
necessidade que quase ninguém tem. Quase ninguém está, vai ou vem com tempo.
Como reacção a este estilo de vida têm vindo a surgir movimentos e ideias que
direccionados para diferentes áreas de funcionamento têm de comum a intenção de
abrandar o ritmo. A palavra-chave emergente é "slow", na alimentação,
nas actividades de lazer, nos locais de trabalho. Multiplicam-se as ofertas
mais ou menos exóticas, mais ou menos criativas, mas todas apostando nas
milagrosas virtudes do "slow".
Neste contexto, tenho-me lembrado
frequentemente do Lesma, era um visionário, o primeiro que conheci e que só
mais tarde reconheci.
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