Um olhar pela imprensa nestes últimos dias fez lembrar-me algo a que já tenho feito referência, Síndrome Pós-ministerial.
Não acompanho suficientemente de
perto a situação noutros países para ter uma perspectiva comparativa, mas
existe uma espécie de síndrome em Portugal que afecta a elementos com
experiência de poder. Esta síndrome, a que poderemos chamar "pós-ministerial" leva a que de depois de terminarem funções sabem muito bem o que
deve ser feito na área de que foram responsáveis. É patente em muitíssimos
ex-governantes ou altos responsáveis que já assumiram responsabilidades de
governo em diferentes áreas. O que me parece curioso nestas circunstâncias é
procurarem apresentar uma visão clara sobre os males e constrangimentos de
diferentes áreas sectoriais, incluindo aquela em que desempenharam funções, bem
como propostas de desenvolvimento e correcção visando a desejável qualidade e o
progresso.
Na área que melhor conheço, a
educação, os exemplos são múltiplos e elucidativos. O mais recente é o de Luísa
Loura, antiga responsável pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e
Ciência no tempo de Nuno Crato (o tempo dos professores a mais e da sinistra
PACC – Prova de Avaliação de Competências e Capacidades para acesso à carreira
docente, lembram-se). É a actual directora da Pordata e “explica” como deve ser gerida a
crítica situação da falta de professores que já se verifica e agudizará a curto
prazo.
A pergunta, certamente estúpida e
demasiado óbvia, que me ocorre face a este tipo de discursos é “então porque
não fez, porque não defendeu assertivamente as ideias agora expressas, muitas a
merecer concordância, quando teve poder para tal?” Podemos, com alguma
habilidade, tentar encontrar respostas. Acabaremos, creio por definir,
inevitavelmente, duas hipóteses básicas, não puderam ou não souberam, qual
delas a mais animadora.
Na primeira, não puderam, implica
questionar qual o poder que efectivamente o detêm relativamente às políticas do
sector que tutelam ou do governo que integram, ou seja, qual o verdadeiro nível
de responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e
gerir as corporações de interesses ameaçadas pelas mudanças. A segunda hipótese
remeterá para a competência que terá passado despercebida.
Em todo o caso, algum pudor e a
humildade de nos explicarem porque não executaram as políticas que
posteriormente defendem, seriam esclarecedoras e um bom serviço prestado à
causa pública.
A questão é que muitos destes
discursos que se apresentam agora como parte da solução, na verdade, escondem
políticas que são ou foram parte do problema.
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