domingo, 10 de abril de 2022

DA SÍNDROME PÓS-MINISTERIAL

 Um olhar pela imprensa nestes últimos dias fez lembrar-me algo a que já tenho feito referência, Síndrome Pós-ministerial.

Não acompanho suficientemente de perto a situação noutros países para ter uma perspectiva comparativa, mas existe uma espécie de síndrome em Portugal que afecta a elementos com experiência de poder. Esta síndrome, a que poderemos chamar "pós-ministerial" leva a que de depois de terminarem funções sabem muito bem o que deve ser feito na área de que foram responsáveis. É patente em muitíssimos ex-governantes ou altos responsáveis que já assumiram responsabilidades de governo em diferentes áreas. O que me parece curioso nestas circunstâncias é procurarem apresentar uma visão clara sobre os males e constrangimentos de diferentes áreas sectoriais, incluindo aquela em que desempenharam funções, bem como propostas de desenvolvimento e correcção visando a desejável qualidade e o progresso.

Na área que melhor conheço, a educação, os exemplos são múltiplos e elucidativos. O mais recente é o de Luísa Loura, antiga responsável pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência no tempo de Nuno Crato (o tempo dos professores a mais e da sinistra PACC – Prova de Avaliação de Competências e Capacidades para acesso à carreira docente, lembram-se). É a actual directora da Pordata e “explica” como deve ser gerida a crítica situação da falta de professores que já se verifica e agudizará a curto prazo.

A pergunta, certamente estúpida e demasiado óbvia, que me ocorre face a este tipo de discursos é “então porque não fez, porque não defendeu assertivamente as ideias agora expressas, muitas a merecer concordância, quando teve poder para tal?” Podemos, com alguma habilidade, tentar encontrar respostas. Acabaremos, creio por definir, inevitavelmente, duas hipóteses básicas, não puderam ou não souberam, qual delas a mais animadora.

Na primeira, não puderam, implica questionar qual o poder que efectivamente o detêm relativamente às políticas do sector que tutelam ou do governo que integram, ou seja, qual o verdadeiro nível de responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e gerir as corporações de interesses ameaçadas pelas mudanças. A segunda hipótese remeterá para a competência que terá passado despercebida.

Em todo o caso, algum pudor e a humildade de nos explicarem porque não executaram as políticas que posteriormente defendem, seriam esclarecedoras e um bom serviço prestado à causa pública.

A questão é que muitos destes discursos que se apresentam agora como parte da solução, na verdade, escondem políticas que são ou foram parte do problema.

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