No Público é divulgado um estudo em desenvolvimento no Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Universidade do Porto envolvendo um inquérito a perto de 2000 alunos (presumo que do ensino básico e secundário pois não é indicado).
Os dados conhecidos sugerem que 30.5% dos alunos inquiridos
refere ter piorado o seu desempenho escolar durante o período de tempo em que
se recorreu ao ensino não presencial. O estudo revela também que os alunos que
sentiram ter menor nível de desempenho são também os que têm contextos
familiares mais vulneráveis traduzindo-se no recurso à acção social escolar e
contextos familiares com constrangimentos em questões como espaços, equipamentos,
disponibilidade, literacia digital, etc.
Nada de novo, mas que se torna necessário considerar.
Algumas notas.
Parece ser consensual que o maior ou menor impacto nas
aprendizagens, por múltiplas razões, é extremamente diversificado em cada
aluno. Parece razoavelmente claro que a diversidade de situações, o seu número,
os anos de escolaridade dos alunos, as variáveis contextuais relativas a cada
comunidade escolar, recursos disponíveis em cada comunidade, as necessidades
específicas de muitos alunos, etc. etc. sugerem que devem ser as escolas a
avaliar as necessidades, identificar os recursos necessários, estabelecer
objectivos, definir metodologias e dispositivos de regulação e avaliação.
Os professores sabem como avaliar e identificar as
dificuldades dos alunos. O que verdadeiramente é imprescindível é dotar as
escolas dos recursos necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto
possível as dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a
apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios
específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num
rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são
essenciais. Torna-se também necessária a existência de dispositivos de
regulação que sustentem o trabalho desenvolvido, de processos
desburocratizados.
Para além das narrativas institucionais mais “simpáticas”,
por assim dizer, o que se vai sabendo das escolas mostra, sem surpresa, o
conjunto de dificuldades que se continuam a sentir.
Por outro lado, considerando os indicadores relativos ao
impacto das variáveis relativas ao contexto sociofamiliar e económico dos
alunos nos seus trajectos de aprendizagem é preciso considerar que não é uma
questão compatível com um Plano de curto prazo que está em desenvolvimento
ainda que com sobressaltos conhecidos.
É importante recordar que, como já aqui afirmei, um trabalho
divulgado em Maio de 2021 pela Human Rignts Watch sobre os efeitos da pandemia
na população escolar e com dados da ONU afirmava que “Uma em cada cinco
crianças estava fora da escola antes mesmo da covid-19”.
Como já tenho escrito simpatizo pouco com narrativas sobre
perdas irreparáveis, gerações perdidas ou outros discursos da mesma natureza,
sobretudo quando são subscritos, por exemplo, pelo ex-Ministro da Educação. No
entanto, a verdade é que muitos alunos incluindo alunos com necessidades
especiais, independentemente da avaliação registada nas grelhas ou nas pautas de
avaliação passaram e passam por sobressaltos e dificuldades no seu percurso
escolar.
Neste contexto, a questão central não deve ser definida em
torno da recuperação dos efeitos da pandemia nas aprendizagens ou no bem-estar
através de planos de recuperação finitos, mas sim, na mudança ao nível das
políticas públicas dos diferentes países, incluindo Portugal, que, para além de
forma mais imediata “recuperarem aprendizagens”, tenham impacto a prazo através
de recursos suficientes e competentes, definição de dispositivos de apoio
eficientes e de acordo com as necessidades, apoios sociais que minimizem
vulnerabilidades que a escola não suprime, valorização da educação e dos
professores, diferenciação e autonomia nas respostas das instituições
educativas, etc.
Sintetizando, para além da conjuntura próxima, cuidar dos
danos da pandemia, importa considerar o que é estrutural e imprescindível em
nome do futuro, a qualidade da educação e uma educação de qualidade para todos.
Vamos ver o que nos traz um novo ciclo governativo.
Sem comentários:
Enviar um comentário