Um trabalho do DN/Dinheiro Vivo recorrendo a dados do Ministério do Trabalho conclui que em 2020 a percentagem de jovens que estava no mercado de trabalho sem ter frequentado ensino superior era de 72,8%.
Este indicador mostra que a tão divulgada ideia de que somos um “país de doutores” é falsa e perigosa pelos riscos de desmotivação.
É também verdade que tem aumentado significativamente o número de indivíduos com
grau de mestre e doutor no mercado de trabalho o que se regista, mas continua
baixo o nível de qualificação de uma parte significativa dos jovens que entram
no mundo laboral. Acresce o número muito significativo de jovens entre os 15 e os 29 anos que não
estudam, nem trabalham, a geração “nem, nem" ou, na terminologia em inglês
os jovens NEET (Not in Education, Employment or Training).
Por outro lado, como muitas vezes aqui tenho referido, a apesar
da diversificação da oferta no ensino superior e de alterações nos processos de
apoio através de bolsas a sua frequência é cara, uma das mais caras da UE o
que, obviamente, também é um obstáculo à continuação de estudos.
A estes indicadores já profundamente inquietantes juntam-se
os dados sobre precariedade, abuso do recurso a estágios e outras modalidades
de aproveitamento de mão-de-obra barata e a prática de vencimentos que mais
parecem subsídios de sobrevivência mesmo para jovens altamente qualificados. A
pandemia veio agravar este quadro.
Trata-se de uma situação complexa e de difícil ultrapassagem
que tem obviamente sérias repercussões nos projectos de vida das gerações que
estão a bater à porta da vida activa. Entre outras, contar-se-ão, os dados hoje
conhecidos mostram-no, o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no
acesso a condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de
projectos de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno
demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à
sustentabilidade dos sistemas sociais.
As gerações mais novas que experimentam enormes dificuldades
na entrada sustentada na vida activa, vão também, muito provavelmente, conhecer
sérias dificuldades no fim da sua carreira profissional.
No entanto, um efeito muito significativo, mas menos
tangível desta precariedade no emprego e na construção de um projecto de vida
autónomo e sustentado, é a promoção de uma dimensão psicológica de precariedade
face à própria vida no seu todo e que, com alguma frequência, os discursos das
lideranças políticas acentuam. Dito de outra maneira, pode instalar-se, está a
instalar-se nos jovens, uma desesperança que desmotiva e faz desistir da luta
por um projecto de vida de que se não vislumbra saída mobilizadora e que
recompense.
O aconchego da casa dos pais pode ser a escapatória para a
sobrevivência, mas potenciar o risco da desistência o que certamente poderá ter
implicações séria.
Tudo isto torna ainda mais necessária a existência de
políticas públicas que sustentem e promovam de forma consistente e prolongada a
modernização do mercado de trabalho, a qualificação do emprego que não pode
assentar em proletarização dos salários e precariedade que desincentiva a busca
de qualificação, a aposta em sectores de actividade que absorvam mão-de-obra
mais qualificada e com maior produtividade, entre outros aspectos e, naturalmente, a promoção significativa do acesso ao ensino superior designadamente ao nível dos custos com a sua frequência e dos apoios disponíveis.
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