Estavam na sala e como um tom de voz já estava um pouco alterado dava para ir apanhando.
...
És a pessoa mais estúpida que
conheço. Cada vez sou menos capaz de perceber como alguma vez gostei de ti.
Não sejas idiota, o enganado
fui eu. Deixei-me arrastar pela tua conversa de menina fina e com estudos.
Longe estava de imaginar como alguém pode ser tão desagradável e egoísta.
Algumas amigas avisaram-me de
que não prestavas, demorei a entender, mas ao fim de doze anos de casamento, se
é que pode chamar casamento a este inferno, já não tenho dúvidas, odeio-te.
Não fosse o que a família
acharia de tudo isto não aguentava nem mais um minuto nesta casa. A tua
presença e proximidade são insustentáveis.
Olha, vê se te calas que a
Andreia vem aí.
...
Quando é que jantamos? Tenho o
TPC para acabar.
Vamos já jantar, estávamos
mesmo a falar sobre ti e como estamos contentes contigo. Daqui a cinco minutos
podes vir para a mesa. E depois, enquanto jantamos aproveitamos para conversar.
Não gosto daquelas famílias que mal falam uns com os outros.
Então vou ao quarto mandar uma
mensagem à Carla.
...
Devem pensar que sou parva. Já
não posso mais. Nunca mais cresço para não ter que estar em casa a aturá-los,
sempre a fingir. Ganda seca.
É sempre preferível uma boa
separação a uma má família, as crianças percebem muito bem quando têm pais
casados por fora e “descasados” por dentro. Compete aos adultos o esforço, por
vezes pesado, de construir uma boa separação. Aliás, provavelmente, só assim
terão serenidade para voltar a construir uma boa família.
Importante mesmo é que também
todos os que de nós lidamos com crianças e com os seus problemas possamos
ajudar os pais neste entendimento, poupando sofrimento a adultos e crianças e
mesmo decisões de guarda parental pouco amigáveis para o superior interesse da
criança.
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