Foi divulgado o trabalho “Jovens e educação sexual: conhecimentos, fontes e recursos” realizado, desenvolvido pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa em colaboração com a Associação para o Planeamento da Família e o Centro Lusíada de Investigação em Serviço Social e Investigação Social.
O estudo envolveu 2319 alunos do
10.º e 12.º anos e foi realizado entre Fevereiro e Junho de 2021. Os dados
sugerem que apesar do conhecimento e informação revelados por muitos jovens
ainda muito há por fazer em matéria de informação sobre sexualidade.
Esta conclusão e o que se passa
noutras áreas do comportamento dos jovens leva-me a insistir em duas ou três
notas que me parecem relativamente claras e simples que retomo de reflexões
anteriores.
Os estilos de vida, as exigências
de qualificação têm tornado gradualmente a escola mais presente e durante mais
tempo na vida de crianças e adolescentes e, consequentemente, com reflexos na
educação em contexto familiar.
Creio que já dificilmente se entende
que a “família educa e a escola instrói”.
Creio que já dificilmente se
entende que a escola forma “técnicos” e não cidadãos, pessoas, com
qualificações ao nível dos conhecimentos em múltiplas áreas. Aliás, se bem
repararem sempre falamos de sistemas de educação e não de sistemas de ensino e
ainda bem que assim é.
Creio que já dificilmente se
entende que o conhecimento é asséptico. O conhecimento, a sua produção e a sua
divulgação, tem, deve ter, sempre um enquadramento ético e não é imune a
valores.
Creio que os tempos mais recentes
são elucidativos de como a abordagem de matérias como Direitos Humanos;
Igualdade de Género; Interculturalidade; Desenvolvimento Sustentável; Educação
Ambiental; Saúde; Sexualidade; Media; Instituições e Participação Democrática;
Literacia Financeira e Educação para o Consumo; Segurança Rodoviária; Risco,
Empreendedorismo; Mundo do Trabalho, Segurança defesa e paz, Bem-estar animal e
Voluntariado são fundamentais ao longo do processo de formação de crianças,
jovens e adultos. O estudo agora divulgado ilustra a situação com campo da
sexualidade.
Nas sociedades contemporâneas um
sistema público de educação com qualidade, desde há muito de frequência
obrigatória e progressivamente mais extenso, é uma ferramenta fundamental para
a promoção de igualdade de oportunidades, de equidade e de inclusão. É através
de uma educação global de qualidade que se minimiza o impacto de condições
sociais, económicas e familiares mais vulneráveis.
Já agora, uns indicadores que, do
meu ponto de vista, justificam com clareza a ideia de que “Educação e Cidadania
para todos, porque sim”.
Considerando a violência nas
relações de namoro, dados de 2019 Um trabalho que envolveu 4598 jovens, do 7.º
ao 12.º com idade média de 15 anos, mostra que para 67% é normal algum tipo de
violência e 58% já terá sofrido pelo menos um comportamento de agressão.
Relativamente ao bullying, os
estudos em Portugal sugerem uma prevalência entre 10 e 25% e a OMS indica que 1
em cada 3 crianças ou adolescentes será vítima de bullying. No caso mais
particular do bullying homofóbico, um trabalho da Associação ILGA Portugal
(2018) envolvendo 700 jovens dos 14 e aos 20 anos, refere que 73,6% já sentiu
alguma forma de exclusão intencional por parte dos colegas.
Consumo de drogas, dados de 2019.
Entre os 13 e os 18 anos aumentou o consumo de drogas não canábis e no grupo de
18 anos aumentou o consumo de canábis. O número de overdoses aumenta há três
anos.
O consumo de álcool por jovens
está a aumentar desde 2017 e a delinquência juvenil, entre os 12 e os 16 anos,
em 2019 aumentou 5,6% e a criminalidade grupal (gangues) aumentou 15,9%.
Assim, por estas razões simples
entendo que "Educação para a Cidadania" deve obrigatoriamente
integrar o trabalho desenvolvido na educação em contexto escolar.
Precisamos e devemos discutir
como fazer sempre considerando a autonomia das escolas, não acredito na
disciplinarização destas matérias, julgo mais interessantes iniciativas
integradas, simplificadas e desburocratizadas em matéria de organização e
operacionalização.
Sem comentários:
Enviar um comentário