Há pouco passei por um espaço onde vi um miúdo a brincar com um daqueles carros telecomandados. Na verdade, o miúdo não brincava, o que na realidade vi foi o pai em grande agitação e entusiasmo a tentar conduzir o carro ainda que sem bom resultado aparente.
Fiquei a pensar a quem teria sido oferecido ou para quem
teria sido comprado aquele brinquedo, para o miúdo não parecia.
A cena lembrou-me uma situação que acontecia na minha
infância e a que a distância dá a tranquilidade que substitui a enorme zanga
que na altura sentia.
Sou da geração que teve acesso aos primeiros brinquedos a
pilhas que vinham substituir os ultrapassadíssimos brinquedos de corda.
Acontece que os primeiros brinquedos a pilhas tinham como forma única de
interacção, de brincadeira com eles, ligar e desligar, o que apesar de tudo nos
introduzia na língua inglesa, com a aprendizagem do "on" e do
"off".
Com estes brinquedos apenas havia uma coisa de inteligente a fazer, desmanchá-los, pois outra coisa não era possível. Ainda me lembro de os meus tios me oferecerem uma locomotiva enorme de chapa, cheia de cores e com muitas luzes. No entanto, brincar com tal máquina era uma decepção. Pegava na locomotiva, colocava o botão no "on" e ela brincava sozinha. Andava, apitava, acendia luzes intermitentes e quando tropeçava num obstáculo, andava para trás até tropeçar de novo e voltar a andar para a frente, mais nada. Claro que a vontade de mexer era tanta que comecei mesmo a desmanchar a locomotiva e então é que foi gozar. Resultado, na minha casa e noutras, havia uns brinquedos que estavam em cima do guarda-fatos porque nós não podíamos brincar com eles, estragávamo-los. Assim, apenas serviam para adorar. A tentação de subir e pegar neles para os desmanchar era grande, mas não podia ser.
Eram brinquedos que não prestavam. Hoje também há brinquedos que não prestam para coisa alguma.
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