Hoje, dia 23 de Abril, de acordo com o calendário que organiza as nossas inquietações cumpre-se o Dia Mundial do Livro.
Os dias de chumbo que que temos
vivido têm múltiplos impactos, no sector dos livros, por exemplo. A peça no Público é elucidativa. Os apoios neste
sector, como noutras áreas, serão insuficientes.
No entanto, é imprescindível
sublinhar e afirmar sempre que os livros e a leitura são bens de primeira
necessidade para gente de todas as idades donde a insistência.
Recordo sempre Marguerite
Yourcenar que em “As Memórias de Adriano” escrevia “A palavra escrita
ensinou-me a escutar a voz humana.”
São múltiplos os estudos que
sublinham o impacto dos livros e da leitura no trajecto escolar e no trajecto
pessoal, como também são muitos trabalhos que mostram que os hábitos de leitura
são pouco consistentes entre as crianças, adolescentes e jovens como, sem
surpresa, também o são entre a população em geral.
Os livros têm uma concorrência
fortíssima com outro tipo de materiais, jogos ou consolas por exemplo, e que
nem sempre é fácil levar as crianças, jovens ou adultos a outras opções,
designadamente aos livros.
Apesar de tudo isto também
sabemos que é possível fazer diferente, mesmo que pouco e com mudanças lentas.
Como várias vezes tenho afirmado
e julgo consensual, a questão central é o leitor, ou seja, o essencial é criar
leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros por exemplo, em que
espaços, biblioteca, casa ou escola e em que suportes, papel ou digital.
Um leitor constrói-se desde o
início do processo educativo. Desde logo assume especial importância o ambiente
de literacia familiar e o envolvimento das famílias neste tipo de situações,
através de actividades que desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam ser
estimuladas, muitas vezes são, e para as quais poderiam ser disponibilizadas
aos pais algumas orientações. Talvez tivéssemos perdido uma oportunidade
enquanto os alunos estiveram em casa tanto tempo.
Apesar dos esforços de muitos
docentes, a relação de muitas crianças, adolescentes e jovens com os materiais
de leitura e escrita assentará, provavelmente de forma excessiva, nos manuais
ou na realização de trabalhos através da milagrosa “net” proliferando o
apressado “copy, paste” ou resumos de leituras necessárias.
Neste contexto, embora desejasse
muito estar enganado, não é fácil construir miúdos ou adolescentes leitores que
procurem livros em casa, em bibliotecas escolares ou outras e que usem o
"tablet" também para ler e não apenas para uma outra qualquer
actividade da oferta sem fim que está disponível.
No entanto, felizmente,
realizam-se com regularidade experiências muito interessantes em contextos
escolares, os professores bibliotecários têm desenvolvido um trabalho
essencial, ou em iniciativas mais alargadas a outras entidades como autarquias
e instituições culturais.
Temos que criar leitores, eles
irão à procura dos livros ou da leitura, mesmo em tempos menos favoráveis.
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