segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O FERRARI DE CANA

 Nestes últimos dias o meu Alentejo ficou mais cheio, os netos estiveram connosco. Numa das noites no telheiro, durante a "converseta" habitual que termina o dia do neto Grande, o Simão, o assunto levou a uma viagem lá para trás no tempo.

A coisa começou com uma pergunta, “Avô, como é que brincavas?”. Começámos então uma visita às brincadeiras e aos brinquedos da minha infância.

A parte que mais o fascinou foi mesmo a dos brinquedos, na maioria feitos por nós, por vezes com alguma ajuda, a vida não era fácil. Dos que não fazíamos e eram mais acessíveis tínhamos os incontornáveis berlindes e os piões que felizmente permitiam diversos jogos para variar.

Às tantas falei-lhe dos carrinhos feitos com canas e arame dos fardos de palha, material que abundava naquele tempo. Os olhos do Simão brilhavam com a descrição e para ele perceber melhor fiz uns bonecos para ilustrar.

No entanto, a adrenalina subiu quando de repente me lembrei que tinha guardado algures o último carro de canas que tinha feito. Há perto de 20 anos tinha feito um para o meu sobrinho que também lá estava no Monte e guardámos o “veículo”.

Não era dos mais “sofisticados” que tinha feito, mas para demonstração estava ainda muito bem.

Quando viram o “Ferrari de Cana” o Simão e o Tomás não lhe deram descanso até se virem embora e o Simão já achava que nós, os miúdos do meu tempo, tínhamos muita sorte por termos aqueles brinquedos tão “fixes”.

Tenho para mim que daqui a alguns anitos teremos uma converseta sobre a “sorte” dos miúdos do meu tempo.

Ficou então combinado que temos de fazer dois carros de cana novos, com atrelados, com báscula, com faróis, etc. e quando conseguir encontrar rolamentos ainda fazemos um carrinho de rolamentos.

Talvez não seja má ideia levar os miúdos a viajar no tempo e a construir o que já quase não se faz. Tenho acerteza de que vão gostar ... todos, miúdos e crescidos.

Fica a foto do “Ferrari de Cana”. São também assim os dias do Alentejo e a magia da avozice.



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