terça-feira, 31 de agosto de 2021

DA OFERTA NO ENSINO SECUNDÁRIO

 O ensino secundário integra na oferta formativa quatro cursos científico-humanísticos, Ciências e Tecnologias, Línguas e Humanidades, Ciências Socioeconómicas e Artes Visuais.

De acordo com a imprensa de hoje apenas 214 das 594 escolas públicas e privadas disponibilizam os quatro cursos. Só em 45.7% dos concelhos (127) existe essa oferta, em 49 existem dois cursos e em 8 concelhos apenas 1 sendo que 33 concelhos não têm ensino secundário.

O inverno demográfico não explica por si só este cenário preocupante.

A extensão da escolaridade obrigatória fez, obviamente, aumentar a população que frequenta o secundário. No entanto, políticas públicas, incluindo na educação, promoveram a desertificação do interior e desencadearam movimentos de encerramento de escolas que, tal como acontece com outras áreas, trabalho, serviços ou saúde, são polos de fixação ou atracção de populações, ou seja, a sua inexistência é mais uma justificação para as famílias, não incluam filhos nos seus projectos de vida, abandonem essas áreas ou não se sintam atraídas para nelas se instalar.

Neste contexto parecem-me desadequadas as afirmações de um responsável da Direcção da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas ao Observador, “Não há oferta porque não há procura”.

Vejamos um exemplo muitas vezes referido, sabemos que procura por bibliotecas ou espaços culturais é potenciada pela sua existência, não pela sua ausência. Dito de outra maneira, criar leitores ou consumidores de bens de cultura passa por criar oferta e não por aguardar uma procura que sustente a disponibilidade da oferta.

No caso da oferta do secundário, admito que em situações muito particulares possa não chegar na sua globalidade a todos os concelhos (com a configuração actual) o que exigirá apoios ajustados a deslocação e estadia de adolescentes e jovens da sua zona de conforto familiar e de residência, sempre, recordo, em situações de excepção.

Por outro lado, parece-me imprescindível que se repensem os critérios relativos ao efectivo de mínimo exigido para abertura de turmas e fazer um esforço para alargamento da oferta.

A sua inexistência pode implicar a desistência do prosseguimento de estudos ou, eventualmente, uma segunda escolha o que em qualquer das situações compromete a construção de projectos de vida pessoal mais sólidos, por maior qualificação e na área que se pretende e fomenta o abandono das famílias criando uma dificilmente ultrapassável circunstância, não procuram porque não há e não há porque não procuram.

Mais uma vez, as políticas públicas exigem opções, os recursos são finitos, mas com regulação e competência, sem desperdício, também sabemos que, simplificando, em educação não há despesa, há investimento.

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