domingo, 15 de agosto de 2021

SER PEQUENO

 Dado o inexorável movimento dos dias cumpro hoje mais um marco de uma estrada que já vai ficando longa. Na minha terra era costume, creio que ainda é muito frequente em Portugal, referir que quando se celebra um aniversário, se é "pequeno". Assim sendo, hoje sou "pequeno", coisa que não é nada fácil imaginar e muito menos conseguir.

Embalado por essa ideia lembrei-me de quando era mesmo pequeno, tentação que parece inevitável cada vez que ficamos mais velhos.

Lembrei-me de como brincava, ao que brincava e com quem brincava, quase sempre na rua.

Depois lembrei-me de como brincava com o meu filho, quando ele era pequeno, grandes viagens em grandes brincadeiras.

Agora brinco com os meus netos, são eles os pequenos. Muito a gente se diverte. E havemos de nos divertir ainda mais a brincar. Palavra de avô.

A este propósito e com já vos tenho dito e, certamente, alguns estranharão, acho que por estes dias os miúdos brincam pouco.

Eu sei que os tempos são diferentes e os estilos de vida mudaram significativamente. No entanto, não me parece que sejam razões suficientes. A questão é, creio, de outra natureza.

As brincadeiras já não brincadeiras, passaram a chamar-se actividades. E os miúdos têm muito pouco tempo para brincar, é quase todo destinado a actividades, muitas actividades, que, dizem, são fantásticas, fazem bem a tudo e mais alguma coisa, promovem competências extraordinárias e é preciso ser excelente.

Deixem os miúdos brincar, faz-lhes bem, é mesmo a coisa mais séria que fazem e, como sabem, é importante lidar desde pequeno com coisas sérias.

Aqui no Alentejo está um tempo muito áspero de calor. É verdade que a presença dos netos é sempre refrescante o que ajuda a que se brinque e hoje como sou pequeno ainda nos entendemos melhor.

O tanque de rega alimentado por uma nascente que, felizmente, este ano corre farta permite brincadeiras mais frescas.

E assim se vai escrevendo a narrativa de um homem de sorte, eu.


1 comentário:

Jaime Santos disse...

Acredito que não deveríamos deixar a vida de adulto matar as grandes qualidades dos dias de ser criança.