Parece destino. Sempre que são conhecidos indicadores de desempenho dos alunos portugueses no âmbito da escolaridade obrigatória ficamos de novo a saber que, genericamente, os níveis de sucesso têm vindo a aumentar ainda que com algumas oscilações, que a retenção não tem impacto significativo na melhoria do desempenho, que os alunos com famílias de mais baixo estatuto social e económico são os que apresentam piores resultados ou que a Matemática é a disciplina em que os alunos expressam mais dificuldade. Nada de novo, lamentavelmente.
Também nada de novo em muitos
comentários produzidos sobre esta questões designadamente, no que respeita à retenção,
mas já lá iremos, pela enésima vez.
Em 2018 o CNE divulgou o
Relatório “Estado da Educação, 2017” onde já constavam indicadores de 2016/2017
analisados em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos no âmbito do
Projecto aQeduto incluindo numa vertente económica. Em termos económicos e
recorrendo aos estudos já desenvolvidos o impacto económico da retenção é
estimado em cerca de 6000€ por aluno em cada ano.
Adaptando o modelo desenvolvido
pela Education Endowment Foundation, o Projecto aQeduto identificou o grau de
eficácia e custo económico de um elenco de medidas de combate ao insucesso. Das
medidas analisadas, a retenção tem o custo mais elevado e a eficiência é
negativa, promove um atraso de 4 meses. Ensinar a estudar é a medida mais
económica, 87€, e mais eficiente, promove um ganho de 8 meses de aprendizagem.
Estes dados são importantes, mas a sua substância não é nova como se continua a constatar.
Recordo que no Relatório
“Low-Performing Students - Why They FallBehind and How To Help Them Succeed”
divulgado pela OCDE em 2017 se evidencia que o “chumbo”, a retenção, é para os
alunos portugueses o principal factor de risco para os resultados na avaliação
posterior, dito de outra maneira, os alunos chumbam … mas não melhoram.
De facto, definitivamente, não
adianta discutir se o chumbo transforma o insucesso em sucesso. Não transforma,
repetir só por repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme
os estudos mostram.
Confesso sempre alguma surpresa e
dificuldade em compreender quando ao discutir-se os efeitos pouco positivos da
retenção algumas vozes, mesmo dentro do universo da educação, clamam que se
está a promover o "facilitismo" ou a defender que "então passam
sem saber". A leitura das caixas de comentários às notícias sobre estas
questões é elucidativa.
Nesta conformidade e do meu ponto
de vista, a questão central não é o chumba, não chumba, e quais os critérios ou
o número de exames, mas sim que tipo de apoios, que medidas e recursos devem
estar disponíveis para alunos, professores e famílias desde o início da
percepção de dificuldades com o objectivo de evitar a última e genericamente
ineficaz medida do chumbo.
Este discurso não tem
rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito menos, com melhoria
"administrativa" das estatísticas da educação, uma tentação a que nem
sempre se resiste. Pelo contrário, “facilitismo” é acreditar que a retenção, só
por si, resolve o problema do insucesso.
Difícil, mas essencial será
promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos
adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz
medida do chumbo. É fundamental não esquecer que o insucesso continua a atingir
fundamentalmente os alunos oriundos de famílias com pior condição económica e
social pelo que inibe o objectivo da mobilidade social. A associação entre o
insucesso e a pobreza em Portugal é, aliás, a mais forte entre os países
europeus. Em Portugal os bons alunos são os que mais trabalham em casa, TPC e
explicações, dado a que, evidentemente, não é alheio ao nível de escolaridade
dos pais e ao estatuto económico. É necessário também diversificar percursos de
formação com diferentes modelos curriculares e carga lectiva finalizando sempre
com algum tipo formação profissional. Esta diferenciação não deve acontecer em
idades precoces criando percursos irreversíveis de "segunda" para os
"sem jeito para a escola" e "preguiçosos".
A qualidade promove-se, é certo e
deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, sim,
naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a
definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio
a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado
das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente,
nos países com mais baixas taxas de retenção escolar.
É o que ainda não consguimos fazer acontecer de
forma consistente e sustentada em Portugal.
3 comentários:
Caro José Morgado, permita-me perguntar o que entende por "recursos adequados e competentes"?
"Difícil, mas essencial será promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo".
O que fazer ao aluno que não quer aprender, "aprendere = agarrar a si próprio"? O que fazer quando os pais dizem "já não sei o que lhe fazer"? QUE RECURSOS?
Olá Rui, por aqui não é fácil dialogar sobre esta matéria. Se entender por bem podemos conversar. Através do mail z.morgado@gmail.com podemos acertar.
Sim, concordo, por aqui não deve ser nada fácil.
Lá para o próximo mês havemos de combinar, obrigado.
Cumprimentos.
Enviar um comentário