sexta-feira, 27 de novembro de 2020

AS CANCELAS

 Quando era miúdo, o meu pai, como todos os pais, ia balizando o que se podia ou não fazer e como. Hoje chamar-se-ia estabelecer regras e limites.

Nesse trabalho diário de pai a expressão que mais utilizava era qualquer coisa como "não saltes a cancela", sendo a cancela, naturalmente, qualquer coisa que não deveria ser feita ou regra que não deveria ser infringida. Como está bem de ver, umas vezes por outras "pulava-se a cancela" e lá vinha, quando se era descoberto, a respectiva consequência, reprimenda, castigo ou, mais raramente, alguma palmada que deixava assim uma espécie de calor que ardia sem se ver.

Hoje, através de um contacto regular com pais e a observação da forma com muitos miúdos funcionam parece que, com demasiada frequência, os pais não identificam e estabelecem com clareza as cancelas da vida dos miúdos que, obviamente, variam com a idade.

O que me parece mais significativo é sentir que muitos pais apesar de perceberem que os comportamentos e atitudes dos miúdos não são os mais desejados, sentem-se incapazes e inseguros e, alguns, negligentes ou desatentos, para com a firmeza necessária definir as cancelas e, manter, com a flexibilidade que o bom senso dita, a consistência das decisões.

É fundamental que se entenda, que os pais entendam, que tanto quanto comer e dormir, os miúdos precisam das cancelas na sua vida. São essas cancelas que lhes regulam os comportamentos, que os ajudam a crescer de forma saudável e a saber tomar conta de si.

De resto e como educar com valores não é a mesma coisa que educar para a santidade, de vez em quando, as cancelas também se podem pular, dá gozo.

2 comentários:

Rui Ferreira disse...

A obrigação de formular proibições é um papel ingrato mas vital, e é precisamente por isso que os filhos ficarão agradecidos aos pais. Quem bem ama, bem castiga.

Não há nada pior para uma criança do que o facto de não ter limites. A ausência de limites assemelha-se a maus tratos.

Delaroche, P. (1996). Aprender a dizer não. (M. M. Laura, & J. M. Silva, Trads.) Paris: Éditions Albin Michel.

Zé Morgado disse...

De acordo, Rui.