Quando era miúdo, o meu pai, como todos os pais, ia balizando o que se podia ou não fazer e como. Hoje chamar-se-ia estabelecer regras e limites.
Nesse trabalho diário de pai a
expressão que mais utilizava era qualquer coisa como "não saltes a
cancela", sendo a cancela, naturalmente, qualquer coisa que não deveria
ser feita ou regra que não deveria ser infringida. Como está bem de ver, umas
vezes por outras "pulava-se a cancela" e lá vinha, quando se era
descoberto, a respectiva consequência, reprimenda, castigo ou, mais raramente,
alguma palmada que deixava assim uma espécie de calor que ardia sem se ver.
Hoje, através de um contacto
regular com pais e a observação da forma com muitos miúdos funcionam parece
que, com demasiada frequência, os pais não identificam e estabelecem com
clareza as cancelas da vida dos miúdos que, obviamente, variam com a idade.
O que me parece mais
significativo é sentir que muitos pais apesar de perceberem que os
comportamentos e atitudes dos miúdos não são os mais desejados, sentem-se
incapazes e inseguros e, alguns, negligentes ou desatentos, para com a firmeza
necessária definir as cancelas e, manter, com a flexibilidade que o bom senso
dita, a consistência das decisões.
É fundamental que se entenda, que
os pais entendam, que tanto quanto comer e dormir, os miúdos precisam das
cancelas na sua vida. São essas cancelas que lhes regulam os comportamentos,
que os ajudam a crescer de forma saudável e a saber tomar conta de si.
De resto e como educar com
valores não é a mesma coisa que educar para a santidade, de vez em quando, as
cancelas também se podem pular, dá gozo.
2 comentários:
A obrigação de formular proibições é um papel ingrato mas vital, e é precisamente por isso que os filhos ficarão agradecidos aos pais. Quem bem ama, bem castiga.
Não há nada pior para uma criança do que o facto de não ter limites. A ausência de limites assemelha-se a maus tratos.
Delaroche, P. (1996). Aprender a dizer não. (M. M. Laura, & J. M. Silva, Trads.) Paris: Éditions Albin Michel.
De acordo, Rui.
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