Foi ontem. Realizaram-se as eleições legislativas e não
tendo o engenho e a arte de analistas políticos, senadores, comentadores,
opinadores e demais politólogos umas notas da parte de alguém que em nome da
cidadania não pode deixar de uma visão do que o rodeia. Não se trata de uma
visão apenas alinhada por critérios de lateralidade, esquerda, centro e direita,
mas mais fortemente pela maior ou menor proximidade a políticas públicas que,
do meu ponto de vista, promovam o bem-estar comum de pessoas e famílias, que protejam
direitos básicos e constitucionalmente estabelecidos em domínios como educação ou
saúde garantindo a universalidade do acesso a respostas de qualidade, promovam
inclusão respeitando a diversidade e combatam intolerância, regulem a acção dos
mercados, etc.
Os valores da abstenção tornam perdedoras todas as
lideranças políticas que de alguma forma contribuem para a cultura de “não vale
a pena”, “não muda nada”, “são todos iguais”, etc. que alimentam a abstenção.
Na verdade, votar vale e vale muito para além do preço que custou a liberdade
de o fazer ou mesmo de se abster.
Os resultados parecem mostrar com clareza a rejeição
significativa de discursos da área de centro e direita que tem feito parte do
arco da governação. No entanto, é de registar a eleição dos deputados da
Iniciativa Liberal e do Chega que trarão certamente outro tipo de discursos
para o Parlamento.
Também a eleição da deputada do Livre me parece de sublinhar assim como a subida do PAN que continuo a tentar perceber ao que vem para além
da boleia em matérias da maior relevância mas que ainda me levanta algumas dúvidas.
Apesar da perda da CDU, a manutenção do BE e a subida do PS
mas sem uma maioria absoluta que eu não desejava, a configuração resultante
suporta a possibilidade de uma solução governativa da mesma natureza da que se
verificou com a chamada “geringonça”.
Creio que é possível “ler” nos resultados eleitorais que para
a maioria dos votantes este será um cenário desejável ainda que o modelo de acordo possa ser diferente.
Também me parece. Não porque a legislatura que passou tenha
sido isenta de erros ou perfeita nas opções. Longe disso, muitas vezes
discordei e discordo, mas julgo, ainda assim, que será a solução governativa
mais desejável.
Temo, no entanto, que agendas próprias e posições
irredutíveis possam comprometer uma perspectiva de trabalho a quatro anos com
alguma estabilidade e em torno de projectos consensuais, mas não unânimes, como
é próprio de democracias representativas.
Mais uma vez, terão uma pesada responsabilidade nas mãos,
não a desperdicem. Não vos perdoaremos.
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