Nos últimos tempos a educação, a escola, tem sido fonte permanente de referências na imprensa na sua maioria de
natureza negativa.
Apesar de como aqui tantas vezes tenho referido considerar urgente
a reflexão e intervenção adequada relativamente aos problemas dos alunos, aprendizagens e
comportamentos, às questões sérias que envolvem os professores incluindo as de
natureza profissional, às relações interpessoais e clima social ou de
organização, ao funcionamento e governação das escolas, não simpatizo com a
alimentação da ideia de que todos os que diariamente chegam às escolas entram
no inferno.
Apesar de todos os constrangimentos e dificuldades e do que ainda está por fazer, o trabalho desenvolvido por professores e alunos é bem-sucedida na maioria das situações e isso
deve ser sublinhado. De uma forma geral, professores e alunos, quase todos, fazem a sua parte.
Reconheço que o universo da educação tem vindo durante
décadas a funcionar de forma associada à deriva política em que os caminhos da
educação se transformaram. Na verdade, a educação tem sido um terreno
privilegiado do funcionamento da partidocracia ao sabor de agendas que,
frequentemente, não coincidem com o bem-estar comum e operadas por equipas que,
nas mais das vezes, produzem catadupas de legislação e mudanças sucessivas, sem
avaliação que as sustente e sem coerência ou competência, a que os fortíssimos
interesses corporativos presentes no universo da educação reagem positiva ou
negativamente conforme os seus interesses são, ou não, contemplados.
Neste cenário têm-se desenvolvido políticas públicas que não
cumprem de forma suficiente o direito constitucional de uma educação de
qualidade para todos os indivíduos em idade escolar com consequências
devastadoras no clima e funcionamento das escolas.
Sabemos e compreendemos a necessidade de combater o
desperdício e conter gastos.
Por outro lado, boa parte dos discursos produzidos pelos
representantes dos professores ou dos funcionários, são quase que
exclusivamente centrados numa visão corporativa de questões profissionais, o
que não se estranha, naturalmente, é a sua vocação. No entanto, esses discursos
surgem, excessivas vezes, capturados pelos interesses das agendas dos
interesses da partidocracia subjacente, ficando pouco clara a preocupação com a
qualidade dos processos educativos.
Num país em que a literacia e a maturidade cívica que
sustentam a solidez e a força de posições de crítica e exigência são
deficitárias, a maioria dos pais está demitida do envolvimento nos movimentos
representativos dos pais pelo que as minorias mais activas assumiram essa
posição que sendo legítima não é eficaz e representativa obedecendo, por vezes
nitidamente, a agendas outras. Os outros pais, a maioria e, sobretudo, os mais
preocupados com os seus miúdos relacionam-se com a escola em função, obviamente,
das particularidades individuais dos seus educandos.
Finalmente e no que respeita aos alunos, parece-me
importante sublinhar que o quadro que descrevi anteriormente, as consequências
dos modelos de desenvolvimento que têm sido seguidos, os sistemas de valores
que temos vindo a definir, não podem deixar de se reflectir na relação que
estabelecem com a escola, ou, melhor dizendo com parte da vida da escola.
É por esta ordem de razões que, a não alterarmos modelos e
valores de participação cívica, discursos e práticas políticas, mais centradas
no bem comum e menos centradas nos interesses da luta pelo poder, dificilmente
imagino que tenhamos, mesmo, um Ministério da Educação centrado no que é
essencial, orientação e regulação, com um aparelho leve e eficaz, e o trabalho
educativo centrado em escolas autónomas, responsáveis e responsabilizadas
perante as comunidades locais.
No entanto, não posso deixar de registar uma palavra de
optimismo. Apesar deste "caos organizado", professores e alunos têm
conseguido produzir um trabalho notável de recuperação de resultados e
competências que os estudos internacionais sublinham.
O meu filho fez toda a formação escolar, do pré-escolar ao
superior, no sistema público, com os sobressaltos próprios destes processos, mas
também com o sucesso que o trabalho dele e dos professores mereceu.
Quero acreditar que os meus netos, o mais velho no primeiro
ano de uma escola pública, possam seguir o mesmo caminho, frequentar uma escola
pública em que confiamos e acreditamos que o leve ao futuro.
Nota - Hoje de manhã passei a pé, com tempo para olhar e pensar, junto da Escola onde fiz a primária, como se chamava. Apesar de lá me ter sentido bem naqueles tempos e porventura a escola ser mais tranquila, definitivamente, eu não quero "aquela" escola para os meus netos. É verdade que a escola de hoje recuperou a quase esquecida radição portuguesa do Halloween e hoje foi simpático ver ao ir levar o meu neto inúmeras crianças com as máscaras mais horríveis, com camisolas tingidas de "sangue" a passear por entre esqueletos e zombies. Anda assim, prefiro a escola de hoje
Nota - Hoje de manhã passei a pé, com tempo para olhar e pensar, junto da Escola onde fiz a primária, como se chamava. Apesar de lá me ter sentido bem naqueles tempos e porventura a escola ser mais tranquila, definitivamente, eu não quero "aquela" escola para os meus netos. É verdade que a escola de hoje recuperou a quase esquecida radição portuguesa do Halloween e hoje foi simpático ver ao ir levar o meu neto inúmeras crianças com as máscaras mais horríveis, com camisolas tingidas de "sangue" a passear por entre esqueletos e zombies. Anda assim, prefiro a escola de hoje
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