Um olhar pela imprensa nestes últimos dias fez lembrar-me algo a que já tenho feito referência, Síndrome Pós-ministerial.
Não acompanho suficientemente de perto a situação noutros
países para ter uma perspectiva comparativa, mas existe uma espécie de síndrome
em Portugal que afecta a classe política com experiência de poder. Esta
síndrome, a que poderemos chamar "pós-ministerial" ou, dito de outra
maneira, depois de saírem de funções sabem muito bem o que deve ser feito na área de que foram responsáveis, é patente em muitíssimos ex-governantes oriundos dos partidos que
já assumiram responsabilidades de governo em diferentes áreas. O que me parece
curioso nestas circunstâncias é procurarem apresentar uma visão clara sobre os
males e constrangimentos de diferentes áreas sectoriais, incluindo aquela em
que desempenharam funções políticas, bem como propostas de desenvolvimento e correcção
visando a desejável qualidade e o progresso.
Na área que melhor conheço, a educação, os exemplos são
múltiplos e elucidativos e bem recentes.
A pergunta, certamente estúpida e demasiado óbvia, que me
ocorre face a este tipo de discursos é “então porque não fez, porque não
defendeu assertivamente as ideias agora expressas, muitas a merecer
concordância, quando teve poder para tal?” Podemos, com alguma habilidade,
tentar encontrar respostas. Acabaremos, creio por definir, inevitavelmente,
duas hipóteses básicas, não puderam ou não souberam, qual delas a mais
animadora.
Na primeira, não puderam, implica questionar qual o poder
que efectivamente o ministro detém relativamente às políticas do sector que
tutela ou do governo que integra, ou seja, qual o verdadeiro nível de
responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e
gerir as corporações de interesses ameaçadas pelas mudanças. Na segunda, não
souberam, sugere que a competência não abundará o que não me parece menos
inquietante.
Em todo o caso, algum pudor e a humildade de nos explicarem
porque não executaram as políticas que posteriormente defendem, seriam
esclarecedoras e um bom serviço prestado à causa pública.
A questão é que muitos destes discursos que se apresentam
agora como parte da solução, na verdade, escondem políticas que são ou foram
parte do problema.
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