Embora continue a entender que não existem “manuais de
instrução” para a educação familiar parece-me interessante e útil reflectir
sobre o conteúdo da entrevista de Jaume Funes no DN, divulgada com o título “Educar um adolescente é dar-lhe autonomia e fazê-lo aprender a gerir riscos”. Como se
depreende do título é enfatizado um aspecto que me parece central como em
tantas sessões de trabalho com pais tenho sublinhado, a promoção da autonomia e
auto-regulação das crianças e adolescentes. Quando se aborda a idade mais
particular da adolescência as preocupações parecem avolumar-se. Ainda não há
muito tempo participei num encontro com pais e encarregados de educação que
tinha como tema um desafiante “Socorro, tenho um adolescente em casa”. Tentei, desejo que com algum sucesso alterar a
ideia para algo como “Mesmo quando não parece e não é fácil, é bom ter adolescentes
em casa”.
De facto, sem acreditar na educação perfeita da criança
perfeita acredito num princípio fundador da educação familiar, a promoção da
autonomia e da auto-regulação desde bebé, sim desde bebé, até … sempre.
Neste sentido e de há muito, sempre que penso ou falo de
educação me lembro de um texto de Almada Negreiros "... queria que me
ajudassem para que fosse eu o dono de mim, para que os que me vissem dissessem:
Que bem que aquele soube cuidar de si". Este enunciado ilustra, do meu
ponto de vista, a essência da educação, seja familiar ou escolar, em qualquer
idade.
Um processo educativo terá com eixo estruturante a
construção de gente que sabe tomar conta de si própria da forma adequada à
idade e à função, actividade ou contexto em que se encontra. Este entendimento
traduz-se num esforço contínuo de promover a autonomia das crianças e jovens
para que "saibam tomar conta de si próprios", no fundo, a velha ideia
de, "ensinar a pescar, em vez de dar o peixe".
Parece-me fundamental que adoptemos comportamentos que
favoreçam esta autonomia dos miúdos e dos jovens. No entanto, é minha convicção
que por razões que se prendem com os estilos de vida, com os valores culturais
e sociais actuais, com as alterações das sociedades, questões de segurança, por
exemplo, estamos a educar os nossos miúdos de uma forma que não me parece, em
termos genéricos, promotora da sua autonomia e auto-regulação.
A rua, a abertura, o espaço, o risco (controlado
obviamente), os desafios, os erros, os limites, as experiências, são ferramentas
fortíssimas de desenvolvimento e promoção dessa autonomia.
Tenho também a convicção de que os pais são, de uma forma
geral, intuitivamente competentes. Mais "asneira", menos
"asneira", mais uma "festinha", menos um
"ralhete" e o caminho cumpre-se sem grandes problemas. Um discurso
social excessivo em torno da "psicologização" ou induzindo a ideia de
que só indo a uma "escola de pais" e lendo vários "manuais de
instruções" poderemos ser bons pais, pode ser mais fonte de inquietação
que de ajuda.
Também me parece de c
Parece-me sobretudo importante que os pais falem entre si
sobre as suas experiências, sem receio de que os julguem maus pais. Importa
inda que na relação com os técnicos ligados à educação as conversas não incidam
quase que exclusivamente sobre "se está bem ou mal na escola", mas
que se abordem as questões educativas também no contexto familiar de forma
aberta e serena. Os "manuais de instruções" não são a solução, são,
alguns, apenas mais uma ajuda.
Pais atentos, pais confiantes, são pais que educam sem especiais
problemas. Paradoxalmente, alguns "manuais" e alguns discursos
"científicos" podem aumentar a insegurança e a ansiedade de alguns
pais.”
Finalmente sublinhar que toda a acção educativa familiar
assenta na relação que tem como ferramenta essencial a comunicação. A
comunicação é essencial, em qualquer idade.
Esta relação constitui uma relação de afecto e segurança com
capacidade reguladora. Não existe "afecto a mais" ou, noutra versão,
"mimos a mais". Existe mau afecto e mau mimo e mau porque é tóxico,
faz mal e não por ser muito. As regras e os limites são bens de primeira necessidade.
Tal como com os afectos, nenhuma dieta educativa pode prescindir de regras e
limites.
E são estas regras e limites e os valores presentes que regulam
a autonomia de crianças e adolescentes.
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