Agora em Carrazeda de Ansiães. Sucedem-se os trágicos
episódios de violência sobretudo sobre as mulheres embora também vitimize
homens. Este ano contabilizam-se já 30 vítimas mortais em cenários de violência
doméstica.
O mundo da violência doméstica é bem mais denso e grave do
que a realidade que conhecemos, ou seja, aquilo que se conhece, apesar de
recorrentemente termos notícias de casos extremos, é "apenas" a parte
que fica visível de um mundo escuro que esconde muitas mais situações que
diariamente ocorrem numa casa perto de si.
Por outro lado, para além da gravidade e frequência com que
continuam a acontecer episódios trágicos de violência doméstica é ainda
inquietante o facto de que alguns estudos realizados em Portugal evidenciam um
elevado índice de violência presente nas relações amorosas entre gente mais
nova mesmo quando mais qualificada. Muitos dos intervenientes remetem para um
perturbador entendimento de normalidade o recurso a comportamentos que
claramente configuram agressividade e abuso ou mesmo violência.
Importa ainda combater de forma mais eficaz o sentimento de
impunidade instalado, as condenações são bastante menos que os casos reportados
e comprovados, bem como alguma “resignação” ou “tolerância” das vítimas face à
situação de dependência que sentem relativamente ao parceiro, à percepção de
eventual vazio de alternativas à separação ou a uma falsa ideia de protecção
dos filhos que as mantém num espaço de tortura e sofrimento.
Nesta perspectiva e como tantas vezes tenho dito, torna-se
fundamental a existência de dispositivos de avaliação de risco e de apoio como
instituições de acolhimento acessíveis para casos mais graves e, naturalmente,
um sistema de justiça eficaz e célere.
Torna-se ainda necessário que nos processos de educação e
formação dos mais novos possamos desenvolver esforços que ajustem quadros de
valores, de cultura e de comportamentos nas relações interpessoais que minimizem o cenário
negro de violência doméstica em que vivemos. A educação e o desenvolvimento que
alimenta constitui a ferramenta de mudança mais potente de que dispomos.
A omissão ou desvalorização desta mudança é a alimentação de
um sistema de valores que ainda “legitima” a violência nas relações amorosas,
que a entende como “normal”.
Tudo isto tem como efeito a continuidade dos graves
episódios de violência que regularmente se conhecem, muitos deles com fim
trágico.
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