quinta-feira, 24 de outubro de 2019

VIOLÊNCIA DIRIGIDA A PROFESSORES. OUTRA VEZ


Continua na agenda a divulgação de episódios de agressão a professores. Face às notícias o ME vem a terreiro informar que os dados disponíveis no Grupo Coordenador do Programa Escola Segura que envolve ME e MAI apontam para que em 2019 se verifiquem menos episódios.
Esta informação acrescenta pouco ao que é central nesta questão. Em primeiro lugar porque se sabe que os episódios reportados não correspondem às reais ocorrências, longe disso, tal como se passa com os fenómenos de bullying. Aliás, foi extinto em 2012 o Observatório de Segurança em Meio Escolar que trabalhava directamente com a escola. Por outro lado, é importante não esquecer os episódios de agressão dirigidos a funcionários que cuja prevalência está subvalorizada.
A questão é que um episódio de agressão é grave só por si e a sua prevalência embora importante evidentemente não diminui a gravidade de cada episódio..
Ainda há poucos dias aqui escrevi sobre esta questão e desculpem a insistência.
Insisto na necessidade de valorizar esta questão que é complexa, difícil mas de enorme impacto social.
Como tenho dito proponho uma breve reflexão em torno de três eixos: a imagem social dos professores, a mudança na percepção social dos traços de autoridade e o sentimento de impunidade que me parecem fortemente ligados a este fenómeno.
Já aqui tenho referido que os ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do discurso de gente dentro do universo da educação que tem, evidentemente, responsabilidades acrescidas e também o discurso que também é uma forma de agressão que muitos opinadores profissionais, mais ou menos ignorantes ou com agendas implícitas, produzem sobre os professores e a escola, contribuíram para alterações significativas da percepção social de autoridade dos professores fragilizando-a seriamente aos olhos da comunidade educativa, sobretudo, alunos e pais. Os últimos tempos têm sido, aliás, elucidativos.
Esta fragilização tem, do meu ponto de vista, graves e óbvias consequências, na relação dos professores com alunos e pais.
Em segundo lugar, tem vindo a mudar significativamente a percepção social do que poderemos chamar de traços de autoridade. Os professores, entre outras profissões, polícias ou médicos, por exemplo, eram percebidos, só pela sua condição de professores, como fontes de autoridade. Tal processo alterou-se, o facto de se ser professor, já não confere, só por si, “autoridade” que iniba a utilização de comportamentos de desrespeito ou de agressão. O mesmo se passa, como referi, com outras profissões em que também, por razões deste tipo, aumentam as agressões a profissionais. Ainda há pouco foi notícia a subida de incidentes de agressão a pessoal da saúde, médicos e enfermeiros.
Finalmente, importa considerar, creio, o sentimento instalado em Portugal de que não acontece nada, faça-se o que se fizer. Este sentimento que atravessa toda a nossa sociedade e camadas sociais é devastador do ponto de vista de regulação dos comportamentos, ou seja, podemos fazer qualquer coisa porque não acontece nada, a “grandes” e a “pequenos”, mas sobretudo a grandes, o que aumenta a percepção de impunidade dos “pequenos”.
Considerando este quadro, creio que, independente de dispositivos de formação e apoio, com impacto quer preventivo quer na actuação em caso de conflito, obviamente úteis, o caminho essencial é a revalorização da função docente tarefa que exige o envolvimento de toda a comunidade e a retirada da educação da agenda da partidocracia para a recolocar como prioridade na agenda política.
Definitivamente, a valorização social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade sendo esta valorização uma das dimensões identificadas nos sistemas educativos melhor considerados.
É ainda fundamental que se agilizem, ganhem eficácia e sejam divulgados os processos de avaliação ou julgamento, e a punição e responsabilização séria dos casos verificados, o que contribuirá para combater, justamente, a ideia de impunidade.

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