Continua na agenda a divulgação
de episódios de agressão a professores. Face às notícias o ME vem a terreiro
informar que os dados disponíveis no Grupo Coordenador do Programa Escola
Segura que envolve ME e MAI apontam para que em 2019 se verifiquem menos episódios.
Esta informação acrescenta pouco ao que é central nesta questão. Em primeiro lugar porque se sabe que os episódios reportados não
correspondem às reais ocorrências, longe disso, tal como se passa com os
fenómenos de bullying. Aliás, foi extinto em 2012 o Observatório de Segurança
em Meio Escolar que trabalhava directamente com a escola. Por outro lado, é importante
não esquecer os episódios de agressão dirigidos a funcionários que cuja
prevalência está subvalorizada.
A questão é que um episódio de
agressão é grave só por si e a sua prevalência embora importante evidentemente não diminui a gravidade de cada episódio..
Ainda há poucos dias aqui escrevi
sobre esta questão e desculpem a insistência.
Insisto na necessidade de valorizar
esta questão que é complexa, difícil mas de enorme impacto social.
Como tenho dito proponho uma
breve reflexão em torno de três eixos: a imagem social dos professores, a
mudança na percepção social dos traços de autoridade e o sentimento de
impunidade que me parecem fortemente ligados a este fenómeno.
Já aqui tenho referido que os
ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do
discurso de gente dentro do universo da educação que tem, evidentemente,
responsabilidades acrescidas e também o discurso que também é uma forma de agressão que muitos opinadores
profissionais, mais ou menos ignorantes ou com agendas implícitas, produzem
sobre os professores e a escola, contribuíram para alterações significativas da
percepção social de autoridade dos professores fragilizando-a seriamente aos
olhos da comunidade educativa, sobretudo, alunos e pais. Os últimos tempos têm
sido, aliás, elucidativos.
Esta fragilização tem, do meu
ponto de vista, graves e óbvias consequências, na relação dos professores com
alunos e pais.
Em segundo lugar, tem vindo a
mudar significativamente a percepção social do que poderemos chamar de traços
de autoridade. Os professores, entre outras profissões, polícias ou médicos,
por exemplo, eram percebidos, só pela sua condição de professores, como fontes
de autoridade. Tal processo alterou-se, o facto de se ser professor, já não
confere, só por si, “autoridade” que iniba a utilização de comportamentos de
desrespeito ou de agressão. O mesmo se passa, como referi, com outras
profissões em que também, por razões deste tipo, aumentam as agressões a
profissionais. Ainda há pouco foi notícia a subida de incidentes de agressão a
pessoal da saúde, médicos e enfermeiros.
Finalmente, importa considerar,
creio, o sentimento instalado em Portugal de que não acontece nada, faça-se o
que se fizer. Este sentimento que atravessa toda a nossa sociedade e camadas
sociais é devastador do ponto de vista de regulação dos comportamentos, ou
seja, podemos fazer qualquer coisa porque não acontece nada, a “grandes” e a
“pequenos”, mas sobretudo a grandes, o que aumenta a percepção de impunidade
dos “pequenos”.
Considerando este quadro, creio
que, independente de dispositivos de formação e apoio, com impacto quer
preventivo quer na actuação em caso de conflito, obviamente úteis, o caminho
essencial é a revalorização da função docente tarefa que exige o envolvimento
de toda a comunidade e a retirada da educação da agenda da partidocracia para a
recolocar como prioridade na agenda política.
Definitivamente, a valorização
social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta
imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade sendo esta valorização
uma das dimensões identificadas nos sistemas educativos melhor considerados.
É ainda fundamental que se
agilizem, ganhem eficácia e sejam divulgados os processos de avaliação ou
julgamento, e a punição e responsabilização séria dos casos verificados, o que
contribuirá para combater, justamente, a ideia de impunidade.
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