No âmbito do Plano Nacional de Leitura foi lançado um desafio às
escolas ao qual responderam 200 das quais foram seleccionadas 70. Estas escolas terão um apoio para reforço das suas bibliotecas e o projecto, mais um
projecto, envolveu mais um processo de candidatura, mais um grupo de escolas
envolvidas relativamente baixo face ao número total, tem como objectivo fomentar o gosto e o prazer pela leitura através de “10 minutos a ler”. As escolas gerirão como melhor entenderem espaços e horários
para que os alunos o 2º e 3º ciclo passem 10 minutos a ler sendo que o projecto
dissocia este espaço e tempo de leitura das aulas de Português.
Nunca é demais sublinhar a importância dos livros e dos
hábitos de leitura na vida das crianças pelo que repesco umas notas
São múltiplos os estudos que sublinham essa importância, no
trajecto escolar e no trajecto pessoal, como também muitos trabalhos mostram
que os hábitos de leitura são pouco consistentes entre as crianças,
adolescentes e jovens como, sem surpresa, também o são entre a população em
geral.
Sabemos ainda o quanto é positivo que os pais ou outros
“mais crescidos” se envolvam com as crianças, mesmo em idade de
jardim-de-infância, em práticas de leitura e de actividades com os livros para,
por exemplo, contar histórias a partir das imagens. Lembro-me de ouvir o Mestre
João dos Santos afirmar que as crianças aprendem a ler desde que abrem os
olhos.
É verdade que os estilos de vida actuais ou a quantidade de
tempo que muitas crianças passam nas instituições educativas podem minimizar a
disponibilidade familiar para este tipo de actividades depois de dias muito
compridos e cansativos para todos.
Também sei que os livros e materiais desta natureza têm uma
concorrência fortíssima com outro tipo de materiais, jogos ou consolas por
exemplo, e que nem sempre é fácil levar as crianças a outras opções,
designadamente aos livros.
Apesar de tudo isto também sabemos todos que é possível
fazer diferente, mesmo que pouco diferente e com mudanças lentas.
A iniciativa agora apresentada pode ser mais um contributo
mas prefiro estratégias mais abertas, mais embutidas nas rotinas de trabalho
diário e a começar cedo sem se apresentarem como mais um acréscimo, mais um projecto nascido
fora da sala de aula que, provavelmente, teriam maior impacto na
criação de hábitos de leitura por mais alunos.
Como várias vezes tenho afirmado e julgo consensual, a
questão central, embora importante, não assenta nos livros, bibliotecas
(escolares ou de outra natureza) ou na presença crescente e atractiva dos
"tablets", a questão central é o leitor, ou seja, o essencial é criar
leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros por exemplo, espaços
ou recursos, biblioteca, casa ou escola e suportes diferente, papel ou digital.
Creio que também estaremos de acordo que um leitor se
constrói desde o início do processo educativo. Desde logo assume especial
importância o ambiente de literacia familiar e o envolvimento das famílias neste
tipo de situações, através de actividades que desde a educação pré-escolar e 1º
ciclo deveriam, muitas vezes são, estimuladas e para as quais poderiam ser
disponibilizadas aos pais algumas orientações.
Nos primeiros anos de escolaridade é fundamental uma relação
estreita com a leitura, não só com os aspectos técnicos, por assim dizer, da
aprendizagem da leitura e da escrita da língua portuguesa, mas um contacto
estreito e regular com a actividade de leitura, seja do que for, considerando
motivações e culturas diferenciadas apresentadas pelos alunos.
Só se aprende a ler lendo, só se aprende a escrever,
escrevendo, etc.
A relação de muitas crianças com os materiais de leitura e
escrita assentará, provavelmente de forma excessiva, nos manuais, na aquisição
pressionada dos “objectivos” e "descritores" curriculares e pouco
mais, apesar do esforço de muitos professores. Restará o tempo das AEC onde,
apesar de algumas experiências interessantes, também nem sempre se encontram os
conteúdos mais adequados, e o tempo de casa que em muitas famílias, cada vez
mais famílias, é curto.
Neste contexto, embora desejasse muito estar enganado, não é
fácil construir miúdos ou adolescentes leitores que procurem livros em casa, em
bibliotecas escolares ou outras e que usem o "tablet" também para ler
e não apenas para uma outra qualquer actividade do mundo que tornam acessível.
Temos que criar leitores, eles irão à procura das bibliotecas e dos recursos para ler.
Temos que criar leitores, eles irão à procura das bibliotecas e dos recursos para ler.
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