terça-feira, 1 de outubro de 2019

DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES


A formação de professores, inicial e contínua, é uma matéria em perante discussão em qualquer sistema educativo. As mudanças rápidas e significativas nas sociedades actuais têm também implicações nas escolas, no que ensinam (educam), como ensinam (educam), a quem ensinam (educam), como avaliam, etc.
Na sequência das mudanças legislativas mais recentes designadamente no que se refere ao currículo e flexibilidade curricular e do novo regime da educação inclusiva parece viver-se mais um ciclo de formação desencadeado pela tutela e em assentes, mais uma vez na “inovação”, numa “nova escola” na “mudança de paradigma" e, obviamente, no que isto exige de novas práticas e até, porque não, novos professores. Bom, mas aqui não há volta a dar, são os que temos e, portanto, toca a formar.
Por razões óbvias não me pronuncio sobre a qualidade da imensa oferta disponível, não deixo, no entanto, de me surpreender com o surgimento de tantos especialistas e na produção de tantas e tão diversificadas ferramentas de criação de “novas práticas”, “novos olhares”, “novas abordagens”, “novas …”.
Temo o risco de uma intoxicação séria que complique e burocratize ainda mais o já instável clima escolar.
Acresce que também fora do âmbito das iniciativas do ME parte do que sido feito, apesar do excelente trabalho de alguns centros de formação, escolas e mesmo municípios, parece ser de natureza avulsa, dependente dos financiamentos e, sobretudo, associada ao “modismo”, ao que parece estar na moda ou "promovida" no âmbito da “inovação” ou no âmbito de uma “mudança de paradigma”, ou da criação de uma "nova escola", etc.
Por outro lado, a forma como tem vindo a ser considerado, ou não, o impacto da valorização profissional na carreira dos docentes também contribui para algum trajecto errático neste contexto.
Devo afirmar que desde há muitos anos colaboro em inúmeras iniciativas no âmbito da formação de professores em diferentes formatos e duração pelo que me sinto envolvido directamente nesta questão e certamente me comprometido com as questões que aqui coloco.
Acresce ainda que no que conheço melhor, o universo da chamada educação inclusiva, e como já repetidamente afirmei, temos o hábito de encharcar a legislação em doutrina quando deveria centrar-se basicamente em princípios, procedimentos, recursos e regulação. Assim, prolifera a oferta de pacotes de formação sobre o desenho universal da aprendizagem, a abordagem multinível e outros modelos que, não passam disso mesmo, modelos pelo que não deveriam estar na legislação. Se verificarmos nos canais mais habitualmente usados para divulgação os canais de divulgação a oferta formativa, organizada por problemáticas de alunos, por ferramentas didácticas, por modelos ou programas de intervenção professores ou famílias, a oferta é inesgotável e com, muitas vezes, “vendida” como a solução. Parece-me claro que a dispersão e quantidade da oferta, só por si, não é garante da sua qualidade.
A teoria, os conceitos, as metodologias e didácticas fazem parte da formação inicial e entram na formação contínua como ferramentas de resposta e de actualização da mesma aos problemas e necessidades dos docentes que, naturalmente, vão sofrendo ajustamentos.
Voltando à minha experiência já longa na formação de docentes, sinto que o que de mais estimulante e, desculpem a imodéstia, mais positivo me pareceu, foi trabalhar com professores de uma escola durante algum tempo, um ano lectivo, a propósito de algumas problemáticas emergentes da sua prática e reflectir sobre como tentar lidar com ela, com o muito que já sabemos e é feito e com o muito que podemos vir a experimentar, avaliar e saber.
Parece-me claramente necessária uma reflexão global sobre a formação contínua nos seus diferentes aspectos.

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