A formação de professores,
inicial e contínua, é uma matéria em perante discussão em qualquer sistema
educativo. As mudanças rápidas e significativas nas sociedades actuais têm
também implicações nas escolas, no que ensinam (educam), como ensinam (educam),
a quem ensinam (educam), como avaliam, etc.
Na sequência das mudanças
legislativas mais recentes designadamente no que se refere ao currículo e
flexibilidade curricular e do novo regime da educação inclusiva parece viver-se
mais um ciclo de formação desencadeado pela tutela e em assentes, mais uma vez
na “inovação”, numa “nova escola” na “mudança de paradigma" e, obviamente,
no que isto exige de novas práticas e até, porque não, novos professores. Bom,
mas aqui não há volta a dar, são os que temos e, portanto, toca a formar.
Por razões óbvias não me
pronuncio sobre a qualidade da imensa oferta disponível, não deixo, no entanto,
de me surpreender com o surgimento de tantos especialistas e na produção de
tantas e tão diversificadas ferramentas de criação de “novas práticas”, “novos
olhares”, “novas abordagens”, “novas …”.
Temo o risco de uma intoxicação
séria que complique e burocratize ainda mais o já instável clima escolar.
Acresce que também fora do âmbito das
iniciativas do ME parte do que sido feito, apesar do excelente trabalho de
alguns centros de formação, escolas e mesmo municípios, parece ser de natureza
avulsa, dependente dos financiamentos e, sobretudo, associada ao “modismo”, ao
que parece estar na moda ou "promovida" no âmbito da “inovação” ou no âmbito de uma “mudança de paradigma”, ou da criação de uma "nova
escola", etc.
Por outro lado, a forma como tem
vindo a ser considerado, ou não, o impacto da valorização profissional na
carreira dos docentes também contribui para algum trajecto errático neste
contexto.
Devo afirmar que desde há muitos
anos colaboro em inúmeras iniciativas no âmbito da formação de professores em
diferentes formatos e duração pelo que me sinto envolvido directamente nesta
questão e certamente me comprometido com as questões que aqui coloco.
Acresce ainda que no que conheço
melhor, o universo da chamada educação inclusiva, e como já repetidamente
afirmei, temos o hábito de encharcar a legislação em doutrina quando deveria
centrar-se basicamente em princípios, procedimentos, recursos e regulação.
Assim, prolifera a oferta de pacotes de formação sobre o desenho universal da
aprendizagem, a abordagem multinível e outros modelos que, não passam disso
mesmo, modelos pelo que não deveriam estar na legislação. Se verificarmos nos
canais mais habitualmente usados para divulgação os canais de divulgação a
oferta formativa, organizada por problemáticas de alunos, por ferramentas
didácticas, por modelos ou programas de intervenção professores ou famílias, a
oferta é inesgotável e com, muitas vezes, “vendida” como a solução. Parece-me
claro que a dispersão e quantidade da oferta, só por si, não é garante da sua
qualidade.
A teoria, os conceitos, as
metodologias e didácticas fazem parte da formação inicial e entram na formação
contínua como ferramentas de resposta e de actualização da mesma aos problemas
e necessidades dos docentes que, naturalmente, vão sofrendo ajustamentos.
Voltando à minha experiência já
longa na formação de docentes, sinto que o que de mais estimulante e, desculpem
a imodéstia, mais positivo me pareceu, foi trabalhar com professores de uma
escola durante algum tempo, um ano lectivo, a propósito de algumas problemáticas
emergentes da sua prática e reflectir sobre como tentar lidar com ela, com o
muito que já sabemos e é feito e com o muito que podemos vir a experimentar,
avaliar e saber.
Parece-me claramente necessária
uma reflexão global sobre a formação contínua nos seus diferentes aspectos.
Sem comentários:
Enviar um comentário