quinta-feira, 27 de maio de 2010

OS HABITANTES DE SEVER, MOIMENTA

Ao iniciar um olhar pelo mundo através da imprensa a expectativa era bem negativa. Pensava ir agarrar a pouco sustentável decisão de incluir no controle da despesa pública a retirada de medidas de apoio aos desempregados. Não se entende, quando todos os dias sabemos e constatamos os elevados níveis de desperdício que se verificam na administração, central e local, e nas centenas ou milhares de organismos inúteis que apenas servem de emprego às clientelas do costume. Estava a pensar como me referir a isto mais uma vez e meio deprimido com o que ia encontrando, quando vi na capa do JN algo de positivo e bonito, do meu ponto de vista, é claro.
Os habitantes da aldeia de Sever, Moimenta da Beira, precisavam de ter caminhos arranjados que lhes permitissem, de forma mais rápida e em melhores condições, trazer a fruta dos seus pomares para a Cooperativa. Para os recursos da Junta de Freguesia tal empreendimento era impossível. Assim, organizaram-se e com os seus tractores e esforço, contando com o apoio possível da Junta andam a colocar os caminhos da aldeia em bom estado. Ao que o JN refere o trabalho tem sido duro e contínuo.
Esta atitude esteve em voga há umas décadas e foi-se perdendo. O sentimento de comunidade e de entreajuda é um bem em vias de extinção. Espera-se que alguém tudo resolva e tudo faça. Esse alguém é, quase sempre, aquela entidade indefinida que designamos genericamente por "eles", "eles" os que têm de fazer e não fazem nada, "eles" os que têm de resolver e não resolvem nada, sempre eles. O "nós" está a perder-se. Talvez um dos caminhos que teremos de percorrer seja o da recuperação da noção e sentimento de comunidade. Eu sei que apesar de pouco divulgado e estimulado ele existe. Provavelmente, se não fosse o espírito de comunidade que se vai mantendo muitas famílias estariam em pior situação do que estão.
Os habitantes de Sever salvaram-me o dia.

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