sexta-feira, 28 de maio de 2010

MAIS UM EPISÓDIO DE INDISCIPLINA

Numa escola pública da periferia de Lisboa, um aluno do 9º ano envolveu-se numa discussão com um colega durante um trabalho de grupo na aula da Inglês e acabou por dizer um palavrão. A cena foi, como de costume, registada num telemóvel e rapidamente apareceu no Youtube. Procurámos alguns comentários a mais este grave incidente que afectou o espaço escolar português. Começámos pelos grupos parlamentares.
Um deputado do PS referiu que graças à eficácia e à bondade das políticas educativas do governo do PS a situação estava incomparavelmente melhor pois na semana anterior o mesmo aluno tinha dito dois palavrões na aula de Matemática.
Ouvimos um deputado do CDS-PP que, depois de um "Oiça", disse que, tal como o CDS-PP sempre tem afirmado, o PS transformou o espaço escolar num espaço de delinquência e insegurança frequentado por imigrantes e filhos de utentes do Rendimento Social de Inserção, pelo que problemas desta natureza são frequentes e, também num frémito de pálpebras, citou Paulo Portas, "se não prendem esta gente, nada será como antigamente".
O deputado do PCP que ouvimos referiu-nos que até a própria juventude começa a dar sinais de contestação tomando posições firmes contra a ditadura das políticas de direita da 5 de Outubro. Um membro do grupo parlamentar dos Verdes que ia a passar disse não ter mais nada a acrescentar. Entretanto, um deputado do Bloco manifestou a sua satisfação pela atitude não conformista do adolescente e a capacidade de erguer a sua voz minoritária para dizer o palavrão que mais ninguém disse.
Finalmente, ouvimos um deputado do PSD que nos referiu a falta de credibilidade do Primeiro-ministro como causa para incidente tão grave.
Ainda conseguimos obter um comentário de alguém da Fenprof que, em contacto telefónico, afirmou que tal incidente se deveu ao facto da docente envolvida já ter duas horas de aula nesse dia e estar fragilizada pelos ataques do ME aos professores. Acrescentou que a Fenprof já apresentou ao ME uma proposta no sentido de que ao quinto palavrão ouvido, os docentes ascendam automaticamente ao patamar acima na carreira.
Uma representante de um pensamento educativo conhecido por "eduquês", seja lá isso o que for, afirmou que se tratou de uma expressão positiva de desconforto por parte do adolescente, na afirmação da sua autonomia e competências interpessoais no quadro de uma sala de aula interactiva. Pois.
Conseguimos ainda a opinião de três especialistas, Medina Carreira, Nuno Crato e Mário Crespo. Em simultâneo, Medina Carreira e Nuno Crato afirmaram que isto é o sinal de que o país está afundado, de como é necessário muito mais rigor e, pelo menos, mais 35 exames até ao 9º ano para que se saiba verdadeiramente quem deve estar na escola e quem deve ir fazer outra coisa qualquer, logo se vê o quê. O terceiro especialista, Mário Crespo, abanava embevecido a cabeça e quis oferecer-nos uma t-shirt. O conhecido opinador Santana Castilho, que ia a passar, disse também qualquer coisa que não se percebeu muito bem, mas clamava que estava contra e que tinha saudades do tempo em que foi Secretário de Estado e a educação em Portugal era um paraíso.
Desistimos do trabalho.

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