sábado, 1 de maio de 2010

FORA DO ALCANCE

Os mais assíduos por estas bandas, talvez recordem um texto de há uns tempos em que referia uma expressão usada pelo meu amigo Mestre Zé Marrafa, o velho que me ajuda nas tarefas do meu Alentejo. Dizia ele que perto é o que gente alcança e longe o que a gente não alcança, sublinhando que podemos sempre tentar alcançar e do longe fazer perto.
Lembrei-me desta ideia a propósito da escola e da relação que alguns miúdos estabelecem com ela. De facto, existem alguns gaiatos que não alcançam a escola, ou seja, na ideia do Velho Marrafa, para esses a escola estará mesmo longe, ainda que nela passando os dias. Quem convive com os cenários educativos reconhece certamente estes miúdos, tornam-se, muitos deles, bem visíveis, quando sentem que não alcançam a escola, que ela lhes fica longe, comportam-se de tal forma que a escola não pode deixar de olhar para eles e ficam, frequentemente, os alunos mais conhecidos da escola.
A questão é que enredada numa teia de burocracia, envolvida na deriva política dos interesses secundários, por vezes sem meios e recursos, responsabilizada por tudo e mais alguma coisa e permeável à negligência e falta de qualidade de alguns que a servem, a escola também não consegue, em muitas situações, alcançar estes alunos e fazê-los perceber-se perto de si.
Cumpre-se assim a narrativa de alguns miúdos, nasceram para viver fora do alcance, até deles próprios.

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