Pode parecer-vos esquisito mas na verdade parece que se vivem tempos de destempo. Quero eu dizer com esta estranha conversa que cada vez mais se pode reparar como o des está presente nos discursos e nos comportamentos. Reparem em alguns exemplos.
O despudor com que em tempos de crise se fala em prémios de milhões e se assumem comportamentos que são verdadeiros atentados à decência. A maior preocupação que nos aflige é o desemprego, mais de meio milhão de desempregados.
Nas relações entre as pessoas não falta o desencontro. Quando olhamos para o futuro muitos de nós sentem-se desmotivados e descrentes.
Instalou-se um sentimento de desconfiança que mina a ideia de comunidade. Muita gente, pequena, graúda e mais velha, passa pelo desconsolo da solidão. A nossa atenção é facilmente desviada do essencial para o acessório, ou seja, ficamos progressivamente desatentos ao que é verdadeiramente importante.
Muitos miúdos e adolescentes mostram um comportamento desregulado que nos preocupa, mas a desregulação nos adultos não é mais animadora. É curioso também como desaprendemos coisas que já soubemos, cumprimentar, conversar, por exemplo. De facto, muitas vezes não se conversa, desconversa-se. Pode reparar-se no desconforto com que muita gente vive uma vida destituída de dignidade.
Apesar deste cenário, mantendo algum optimismo, acredito que seremos capazes de substituir os modelos de desenvolvimento que nos trouxeram a isto por modelos de envolvimento, bem mais inteligentes.
1 comentário:
À coisa de 3 semanas assisti a uma peça de teatro forum, "os meus não dão problemas", da companhia Holofote. Gosto deste tipo de intervenção! No final, o debate e a reflexão são convidados entre a plateia. Na audiência constavam ilustres anónimos, alguns ligados à educação. Entre as reflexões e o relato de experiências que a peça suscitou, houve uma que chamou a minha atenção.
Um grupo de psicólogos e professores criaram um espaço de encontro entre pais e filhos. Nesse espaço, são convidados a conversar sobre o que gostam e o que não gostam no outro. Nesse espaço existe tempo para a conversa, para a troca de experiências, para a partilha de medos e ansiedades entre pais e filhos.
O mesmo grupo de psicólogos e professores relatou que à páginas tantas um filho diz à sua mãe: "gostava que me dissesses mais vezes NÃO". Esta é uma das palavras-chave de uma "boa" educação.(e é curioso como é um filho a dizê-lo).
Nos nossos dias, onde existem desemprego, desilusão, desencontros entre pais e filhos, a existência destes espaços são de enaltecer.
Cumprimentos
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