segunda-feira, 6 de junho de 2016

ESTÃO AÍ AS PROVAS DE AFERIÇÃO

Cerca de 175 000 alunos do ensino básico do 2º, 5º e 8º ano do ensino básico iniciam hoje a realização das provas de aferição. Estes alunos pertencem a 2800 escolas, as que decidiram realizar este ano estas provas e que correspondem a 57% do universo de escolas.
Como já aqui tenho escrito, este processo desenvolveu-se com vicissitudes dispensáveis e com conteúdos que me levantam alguma reserva embora considere genericamente que as provas de aferição são uma opção correcta.
A eliminação dos exames e a sua substituição pelas provas de aferição não ocorreu com o calendário mais aconselhável, depressa e bem não há quem.
Por outro lado, as reacções levaram o ME a definir que em nome da autonomia as escolas decidiriam se as realizariam ou não este ano. No entanto, curiosamente, a autonomia das escolas nesta matéria extingue-se para o próximo ano pois as provas serão de realização obrigatória. Evitável.
Como também tenho afirmado, continuo com muitas dúvidas sobre a realização das provas de aferição em anos intermédios dos ciclos, 2º. 5º e 8º. Uma aferição, creio, deverá ser realizada no final de um período de aprendizagem. Só nessa altura será possível “aferir” os resultados que se encontram face aos resultados que se esperam e ter uma visão global comparativa.
Uma avaliação durante um período de trabalho com o objectivo de detectar dificuldades e corrigir trajectórias é evidentemente um requisito de qualidade mas é, do meu ponto de vista, uma avaliação de diagnóstico, de regulação, não de aferição.
Por outro lado, no seu desenho e conteúdo, estas provas de aferição são mais completas que o modelo antigo o que me parece de sublinhar.
Em primeiro lugar, no 1º ciclo contemplam a área curricular “Estudo do Meio” e para o ano contemplarão as Expressões.
No 5º e 8º este ano serão apenas avaliadas as áreas de Português e Matemática mas a partir do próximo ano envolverão rotativamente outros conteúdos curriculares.
É ainda relevante que em Português será também avaliada a componente da oralidade.
Uma outra questão que também já referi em textos anteriores é a disponibilização para pais e encarregados de educação de um Relatório detalhado do desempenho dos seus educandos nas provas de aferição. As escolas, terão também, naturalmente, a informação completa.
Entendo, claro, que os pais e encarregados de educação devem ser, tanto quanto possível, envolvidos e informados sobre o trajecto escolar dos seus educandos. No entanto, também sei das dificuldades sentidas neste envolvimento e o nível de literacia e qualificação escolar dos pais e encarregados de educação, factor que continua, aliás, a ser uma das variáveis mais fortemente associada ao desempenho escolar dos filhos.
Sendo provável que os alunos com desempenho mais baixo terão os pais com menor nível de qualificação escolar coloca-se uma questão em termos de educação familiar. Que farão os pais destes alunos com o “relatório” que receberão sobre o desempenho dos filhos nas provas de aferição? Partindo do pressuposto da sua dificuldade em os ajudar e da impossibilidade de recorrer a ajudas externas à escola fica a eterna questão, que fará a escola com estes resultados que, aliás, serão certamente coerentes com os resultados das avaliações realizadas em sala de aula pelos professores no âmbito do seu regular processo de trabalho?
Aqui surgem algumas dúvidas pois, defendendo as provas de aferição como instrumento regulador e imprescindível como ferramenta contributiva para o trabalho de alunos e professores, coloca-se uma questão, terá a generalidade das escolas recursos (tempo, docentes e técnicos) e autonomia para organizar dispositivos de correcção de trajectórias escolares de insucesso ou em risco detectadas nestas provas de aferição?
Gostava de ser optimista, quero ser optimista mas … espero para ver.

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