sexta-feira, 24 de junho de 2016

O MEU FILHO ESTÁ NA TURMA DOS MAUS, VAI FICAR BOM?

À boleia de uma peça do Público retomo o Relatório “Equations and Inequalities: Making Mathematics Accessible for All” elaborado pela OCDE com base nos resultados em Matemática no estudo comparativo PISA de 2012.
Uma das recomendações do Relatório remete, não é a primeira vez que a OCDE se refere a esta questão, para a necessidade de se repensar o recurso a turmas de alunos “mais fracos”para minimizar dificuldades.
Muitas vezes aqui tenho abordado esta questão e recupero algumas notas.
Como já tenho referido, em algumas situações, bem avaliadas todas as variáveis envolvidas, posso entender a constituição por um período de tempo bem delimitado de grupos de alunos com algum tipo de dificuldade escolar para a realização de um trabalho de apoio específico. Existem algumas boas experiências neste campo.
No entanto, a constituição de natureza mais prolongada de grupos de alunos com dificuldades ou de grupos de “bons alunos” abre a porta a situações que me parecem profundamente discutíveis, referidas no Relatório da OCDE. Esta inquietação não tem rigorosamente a ver com a argumentação fraquinha, muito fraquinha, do estafado e improdutivo "politicamente correcto”.
Esta situação existe entre nós, começou há anos com “turmas de nível” e quem conhece a realidade sabe que os resultados dos alunos "maus" continuaram, genericamente maus, o povo diz junta-te aos bons e serás como eles, junta-te aos maus e serás pior do que eles.
A constituição de grupos nivelados, "homogéneos", com base no rendimento escolar, no comportamento ou na origem social e familiar, não é rara nas nossas escolas, com ou sem “cobertura” legal.
Sabemos todos de turmas maioritariamente constituídas por repetentes ou oriundos de alguns bairros, bem como, pelo contrário, turmas maioritariamente constituídas por bons alunos, filhos de docentes ou de funcionários ou de alguém com “capacidade” para influenciar a definição da turma para o seu filho.
A questão central coloca-se em dois patamares, a eficácia e o impacto nos alunos. Vamos por partes. A experiência e os estudos realizados sobre estas questões mostram que sem recorrer a apoios eficazes e adequados, separando apenas por competência, os “bons” continuam bons os “maus” também continuam maus, apenas deixam, crê-se, de atrapalhar o trabalho dos bons.
O trabalho dos maus, corre o risco de ser nivelado por baixo introduzindo um tecto nas aprendizagens que inibe um percurso do mesmo tipo e qualidade que o dos bons mesmo que sejam bem-sucedidos, o que só acontece pelo trabalho de apoio adequado e não por estarem junto de outros maus.
Nós aprendemos mais e melhor com quem sabe mais que nós.
Quanto ao impacto, parece óbvio que a diversidade é sempre preferível a uma falsa homogeneidade. As atitudes de discriminação negativa não apresentam nenhuma espécie de vantagem pessoal ou social, guetizam, estigmatizam e promovem quer nos bons, quer nos maus, uma relação desconfiada e tensa facilitadora de problemas.
As dificuldades escolares gerem-se com apoios e recursos que terão certamente de ser diferenciados mas não podem, não devem, implicar a criação de “guetos” para os “maus” alunos ou de "condomínios" para os "bons". Sim, tem custos mas, como sempre, trata-se de opções políticas. Aliás, se promover o sucesso real é caro que se façam as contas ao custo do insucesso.
A verdade é que se não for a escola, a educação, sobretudo a escola e a educação públicas, a promover equidade de oportunidades e a combater a exclusão e o insucesso não restará nada nem ninguém que o faça. 

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