quarta-feira, 15 de junho de 2016

DOS NEGÓCIOS DA EDUCAÇÃO. OS MANUAIS ESCOLARES

O responsável pelo Grupo Porto Editora um dos donos do importante nicho de mercado que os manuais escolares representam alerta para os riscos da anunciada intenção de tornar gratuitos os manuais e fomentar a sua reutilização.
O responsável pelo grupo editorial estima que a medida pode “criar mil ou dois mil desempregados”, e ainda “dificultar o acesso das famílias e das pessoas à cultura, em determinados locais”.
Argumenta ainda que a gratuitidade dos manuais pode fomentar desigualdades o que também é um elemento a considerar nesta equação.
Na verdade os negócios da educação têm múltiplas vertentes, sempre a pensar, evidentemente, nos interesses dos alunos e das famílias.
Na verdade e antes de mais importa não esquecer que a Constituição, Art.º 74º (Ensino), determina “Na realização da política de ensino incumbe ao Estado: a) Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito;
No entanto, como já tenho afirmado e retomo algumas notas, creio que o caminho a percorrer em matéria de manuais escolares deveria incluir estratégias que tentassem contrariar o que costumo designar por uma excessiva manualização do ensino que emerge de práticas pedagógicas pouco diferenciadas muito decorrentes de conteúdos curriculares demasiado extensos, prescritivos e normalizadores. Seria desejável atenuar a fórmula predominante, o professor ensina com base no manual o que o aluno aprende através do manual que o pai acha muito importante porque tem tudo o que professor ensina.
O número de alunos por turma é também um facto contributivo para este cenário. A anunciada redução do número de alunos por turma ao abrigo de uma verdadeira autonomia das escolas e dos professores, permitiria a alunos e professores um trabalho de pesquisa e construção de conhecimentos com base noutras fontes incrementando, por exemplo, a acessibilidade a conteúdos e informação diversificada que as novas tecnologias oferecem. Sem surpresa este entendimento é um dos eixos da reforma em curso na Finlândia.
A questão é que os manuais escolares constituem um importantíssimo nicho de mercado potenciado pela enorme quantidade de materiais que os acompanham os manuais. Como exemplo é de registar que a gratuitidade dos manuais para o 1º ano envolve um montante de três milhões de euros. É um nicho de mercado com muito e peso os donos deste mercado dele não querem abdicar, recebam das famílias ou recebam do Estado.
Esta será também a razão que impede novos modelos de manuais que permitam a sua reutilização num dispositivo que me parece o mais ajustado e em uso em muitos países.
Os manuais escolares são disponibilizados pelas escolas e devolvidos pelos alunos no final do ano lectivo ou da sua utilização. As famílias são responsabilizadas pelo seu eventual dano ou extravio e ficando, assim, com "folga" para aquisição de outros materiais, livros por exemplo, um bem com pouca presença em muitos agregados familiares.
Vamos ver a continuidade das políticas educativas em matéria de manuais escolares já que o ME também informou no início do ano seria constituído um grupo de trabalho com o objectivo de construir um plano plurianual para operacionalização de um modelo que para além da gratuitidade contemple formas de reutilização de manuais escolares e recursos didácticos.
Deve ser da idade mas tenho sempre o receio de experiência feito que a constituição de um “grupo de trabalho” é a forma mais expedita de … não mexer em qualquer matéria.

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