Há muitos anos atrás era frequente ameaçar as criancinhas de que iriam para um quarto escuro se fizessem asneira. Tenho ideia, não sei se correcta, de que a utilização desta, por assim dizer, ferramenta de gestão do comportamento dos meninos caiu em desuso. Provavelmente ter-se-á verificado uma actualização do pensamento dos adultos sobre o que acham que pode assustar os miúdos.
De qualquer forma creio o quarto
escuro está ainda presente na vida de muita gente pequena.
Alguns vivem em autênticos
buracos negros sem perceber muito bem como lá foram parar e como de lá podem
sair, é que não se vê nada. Nada que possa servir de referência, que projecte
alguma luz sobre o caminho a seguir ou sobre o que pensar. Alguns destes
transportam o quarto escuro dentro de si e cobram isso a quem com eles se
cruza. Para fugir do medo causam medo, vivem disso.
Outros miúdos andam pela vida um
pouco perdidos à procura de caminho. Se passarem à beira do quarto escuro podem
sentir-se tentados a entrar. Será bem mais difícil sair.
Temos ainda um grupo de miúdos
que vivem em quartos muito iluminados, mas que, de mansinho, começam a sentir a
sombra que antecede o escuro a instalar-se por dentro. Estão sós, ou
acompanhados de outros tão sós quanto eles e, aparentemente, tranquilos. É
preciso estar atento.
No fundo isto mostra como é
fundamental a luz na vida dos miúdos. Não é necessário ameaçá-los com o quarto
escuro. É mais importante ajudá-los a sair ou evitar que para lá entrem.
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