quarta-feira, 20 de julho de 2022

AS MINORIAS TRANSPARENTES

 Continuo a achar que a programação televisiva, estou a referir-me aos canais portugueses generalistas, dá pouca atenção aos problemas e contextos dos grupos demográficos minoritários a não ser quando surgem incidentes. Acontece ainda que a pouca programação existente é geralmente colocada em horários completamente desinteressantes verificando-se, naturalmente, audiências residuais. A RTP1 e RTP2, apesar do quadro geral negativo, apresenta indicadores um pouco melhores que outros operadores, não sendo de esquecer as suas obrigações de serviço público.

Nestas circunstâncias é tentador e fácil estabelecer comparações com os meios, os recursos e o tempo de antena destinados a assuntos da mais variada natureza, explorados exaustivamente, o futebol e o comentário político com os “opinadores” encartados e de agenda no iPad, serão exemplos clássicos sem que, nas mais das vezes, se vislumbre interesse ou sentido. Também não podemos ser ingénuos e esperar que os conteúdos televisivos escapem ao fortíssimo controle dos critérios comerciais, ou seja, interessa o que vende e garante audiência e publicidade, não o que é importante ou útil. Por vezes, ainda que raramente, estes critérios coincidem.

Não simpatizo com a existência de quotas obrigando a um mínimo de horas de programação, caminho que nos levaria a situações complexas, incluindo a dificuldade de estabelecer quais as matérias, para além da questão das minorias que agora estamos a considerar, que deveriam ser objecto de quota de programação.

Neste quadro, emerge, como sempre a questão dos valores e da maturidade cívica da nossa comunidade. Num tempo em que se ouvem vozes e observam comportamentos de intolerância, quer em Portugal, quer no resto do mundo, a preocupação com a informação, o acolhimento e as atitudes e comportamentos face à diversidade são absolutamente decisivos.

Muitas vezes afirmo que o grau de desenvolvimento de uma comunidade também se avalia pela forma como cuida das minorias. Mantê-las invisíveis, alimentando preconceitos, estereótipos ou representações negativas, não é, seguramente, um bom caminho.

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