Bom, aí está o produto sazonal que dá pelo nome de “rankings escolares” nas suas diferentes declinações e leituras dos dados disponibilizados e bem pelo ME. Agora, relativos a 2021, um ano ainda atípico.
Apesar de continuar com dificuldade em defender a sua
bondade, não tenho uma atitude fundamentalista face à sua construção. Sublinho,
sobretudo, a evolução que se tem verificado nos últimos anos, quer na
disponibilização de informação por parte do ME para além dos “meros” resultados
da avaliação externa, quer na forma como essa informação é tratada e divulgada
por diferentes entidades e imprensa. Se me parece muito importante a análise dos dados
providenciados pelo ME, já me parece bem menos relevante a construção de listas
classificativas de escola.
Continuo também a sentir-me incomodado com as estratégias de
marketing dos negócios da educação a propósito da divulgação dos rankings.
A mais frequente defesa da sua construção assenta na
importância da avaliação externa. No entanto, é evidente que a imprescindível
avaliação externa não tem que, necessariamente, obrigar à construção dos
rankings que, aliás, alguns países não realizam. Curiosamente, em Singapura
terá sido decidido em 2018 abolir a construção e divulgação de rankings
escolares com base nos resultados em exames bem como não divulgar outras
informações de natureza comparativa sobre o desempenho escolar dos alunos.
A decisão, de acordo como o Ministro da Educação, Ong Ye
Kung, assenta no princípio a promover junto dos alunos e famílias que “aprender
não é uma competição”. Aliás, é interessante considerar toda a argumentação e
sustentação da medida. A decisão é ainda mais surpreendente considerando a
posição cimeira habitualmente ocupada por Singapura nos estudos comparativos
internacionais e na sua habitual defesa destes dispositivos.
Mas existindo e apesar das mudanças que se têm verificado
que mostram, ou não, os rankings?
Dificilmente mostrarão algo de substantivamente diferente
como é que claro.
Mostram que genericamente as escolas privadas apresentam
melhores resultados e que também existem escolas privadas com resultados mais
baixos.
Mostram que a maioria das escolas que maior discrepância
apresenta entre a avaliação externa e a avaliação interna, sendo esta
"inflacionada", são privadas sendo algumas persistentes na tarefa.
Mostram que existem escolas públicas com bons resultados e
escolas públicas com resultados menos bons.
Mostram que existem escolas que face ao contexto
sociodemográfico que servem conseguem bons resultados ou, pelo menos, progresso
no trajecto dos alunos e que existem escolas públicas que ainda não conseguem
contrariar o destino de muitos dos seus alunos.
Mostram que a menor dimensão das turmas pode em escolas em
contextos menos favoráveis promover a melhoria de resultados.
Mostram que a tradição ainda é o que era, pais (mães) mais
escolarizados, têm, potencialmente, filhos com melhores resultados.
Mostram que as escolas públicas são as que mais progressos
promovem nos alunos.
Mostram que nas escolas com melhores resultados, em regra,
são as que têm menos alunos abrangidos pela Acção Social Escolar.
Mostram que a escola, os professores, fazem a diferença.
Mostram ainda que se continua a falar de “melhores escolas”
e “piores escolas”
Mostram que …
Enfim, os rankings mostram tudo, só não mostram o que se
fará a seguir com a informação que os rankings mostram. Na verdade, também não
mostram o tanto que não se consegue medir, mas se pode avaliar e que é tão
essencial como o que se mede.
Três notas finais.
1 - A propósito de rankings - Gert Biesta da Universidade
Stirling numa obra notável, "Good Education in a Age of Measurement -
Ethics, Politics, Democracy", afirma que uma obsessão centrada na medida,
assenta na gestão continuada de uma dúvida, "medimos o que valorizamos ou
valorizamos o que medimos?"
2 - Por onde andam nos rankings os alunos com necessidades
educativas especiais? (desculpem o termo
não inovador dentro do novo paradigma, mas ainda não me habituei às novas
"não categorias" como "adicionais", "selectivas"
ou "adicionais").
Provavelmente à espera da operacionalização de um novo indicador-chave da
avaliação das escolas, a inclusão de cuja consideração na construção dos
rankings não me dei conta.
3 – Continuo com a dúvida expressa por Gil Nata e Tiago Neve
do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da U. do Porto que num texto
no Público a propósito dos rankings de há dois anos escreviam, “Assim, passados
20 anos, a pergunta impõe-se onde estão as evidências de que a publicação dos
rankings tenha contribuído para a melhoria do sistema educativo?”
Para o ano cá estaremos a tentar perceber que efeito terá
nos rankings o ano que está a terminar.
E voltarei a estas notas. São assim os produtos sazonais.
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