Foram divulgados os resultados dos exames do 9º de Português e Matemática, sim, esses, os que não contavam para a nota final. E que contam estes resultados?
Em Matemática, exame realizado por 92646 alunos a média foi de
45% (escala de 100) e em Português, com 90501 respostas, a média foi 55%. Em Matemática
57.7% dos alunos tiveram nota negativa e em Português 38%.
Não é um quadro animador. O facto de os exames não contarem
para a nota final pode ter alguma relação com o desempenho sendo, no entanto,
difícil quantificar o peso de eventual desinvestimento. Teremos ainda
certamente nestes resultados alguns efeitos dos anos atípicos decorrentes da
pandemia. De qualquer forma merecem reflexão e preocupação, estes alunos irão, na sua grande maioria, entrar no secundário.
Recordo que a Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e
Ciência divulgou o relatório, ”Estatísticas da Educação 2020/2021”, com os
dados relativos à retenção e abandono escolar. Em 20/21, ano que os alunos que
agora responderam em exame estavam no 8º ano, a taxa de retenção e abandono foi
de 4.2%.
Nas provas de aferição realizadas em 20/21 e de acordo com
os dados divulgados pelo IAVE os alunos do 8º ano evidenciaram dificuldades
persistentes na “resolução de problemas” e no 5.º e no 8.º ano a percentagem de
alunos que respondeu sem dificuldades, variou, conforme os domínios em
avaliação, entre 2,7% e 44,2%, sendo que na maioria dos domínios analisados
ficou abaixo dos 20%.
Mais uma vez, estes dados não parecem coerentes com as taxas
de sucesso com base na transição de ano e no completar dos ciclos no número
anos definido para cada um. Como já escrevi, o sucesso parece significar “passagem
de ano” e não conhecimentos e competências adquiridas.
Insisto que levantar esta questão não tem rigorosamente a
ver com a defesa da retenção, o “chumbo” não produz sucesso e, muito menos,
combate a desigualdade, nenhuma dúvida sobre isto.
A qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a
avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, sim, naturalmente, mas também
com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos
adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores
eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem
um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de
autonomia, organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a
definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente, nos países com mais baixas
taxas de retenção escolar.
É o que ainda não conseguimos fazer acontecer de forma
consistente, generalizada e sustentada em Portugal, apesar da imensidade de
projectos, planos, iniciativas, inovação, actividades que, demasiadas vezes
chegam do exterior às escolas, podem ser interessantes … mas não são mágicos,
por mais que num exercício de "wishful thinking" os queiramos entender
e vender como tal.
Não vale a pena insistir nesta via.
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