terça-feira, 12 de julho de 2022

DOS EXAMES QUE NÃO CONTAVAM

 Foram divulgados os resultados dos exames do 9º de Português e Matemática, sim, esses, os que não contavam para a nota final. E que contam estes resultados?

Em Matemática, exame realizado por 92646 alunos a média foi de 45% (escala de 100) e em Português, com 90501 respostas, a média foi 55%. Em Matemática 57.7% dos alunos tiveram nota negativa e em Português 38%.

Não é um quadro animador. O facto de os exames não contarem para a nota final pode ter alguma relação com o desempenho sendo, no entanto, difícil quantificar o peso de eventual desinvestimento. Teremos ainda certamente nestes resultados alguns efeitos dos anos atípicos decorrentes da pandemia. De qualquer forma merecem reflexão e preocupação, estes alunos irão, na sua grande maioria, entrar no secundário.

Recordo que a Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgou o relatório, ”Estatísticas da Educação 2020/2021”, com os dados relativos à retenção e abandono escolar. Em 20/21, ano que os alunos que agora responderam em exame estavam no 8º ano, a taxa de retenção e abandono foi de 4.2%.

Nas provas de aferição realizadas em 20/21 e de acordo com os dados divulgados pelo IAVE os alunos do 8º ano evidenciaram dificuldades persistentes na “resolução de problemas” e no 5.º e no 8.º ano a percentagem de alunos que respondeu sem dificuldades, variou, conforme os domínios em avaliação, entre 2,7% e 44,2%, sendo que na maioria dos domínios analisados ficou abaixo dos 20%.

Mais uma vez, estes dados não parecem coerentes com as taxas de sucesso com base na transição de ano e no completar dos ciclos no número anos definido para cada um. Como já escrevi, o sucesso parece significar “passagem de ano” e não conhecimentos e competências adquiridas.

Insisto que levantar esta questão não tem rigorosamente a ver com a defesa da retenção, o “chumbo” não produz sucesso e, muito menos, combate a desigualdade, nenhuma dúvida sobre isto.

A qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, sim, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.

É o que acontece, genericamente, nos países com mais baixas taxas de retenção escolar.

É o que ainda não conseguimos fazer acontecer de forma consistente, generalizada e sustentada em Portugal, apesar da imensidade de projectos, planos, iniciativas, inovação, actividades que, demasiadas vezes chegam do exterior às escolas, podem ser interessantes … mas não são mágicos, por mais que num exercício de "wishful thinking" os queiramos entender e vender como tal.

Não vale a pena insistir nesta via.

Sem comentários: