A surfista Marta Paço sagrou-se
na última semana nos EUA campeã mundial de surf adaptado na categoria de
competidores com deficiência visual. Este feito ocorre dois anos depois de ter
sido campeão europeia.
Marta Paço tem dezasseis anos, é
cega, e dá uma impressiva entrevista ao DN que, aliás, terá sido dos raros
órgãos de comunicação social que deram algum relevo ao título alcançado.
Da sua entrevista, a afirmação, “Sem
dúvida. No mar não tenho obstáculos, ao contrário da rua e em todo o lado. Sou
só eu, a prancha e a água.” Como resposta à pergunta “É no mar que se sente
melhor e mais livre?”, é esmagadora e também inspiradora.
Como a propósito de realizações
notáveis de atletas com algum tipo de deficiência noutras modalidades tenho
afirmado, a vida de muitas pessoas com deficiência é, na verdade, uma constante
e infindável prova de obstáculos, muitas vezes intransponíveis, que ampliam de
forma inaceitável a limitação na mobilidade e a funcionalidade em diferentes
áreas que a sua condição, só por si, pode implicar. Como é evidente, existem
muitas áreas de dificuldades colocadas às pessoas com deficiência,
designadamente, educação e emprego em que a vulnerabilidade e o risco de
exclusão são enormes.
Reafirmo algo que recorrentemente
subscrevo, os níveis de desenvolvimento das comunidades também se aferem pela
forma como lidam com as minorias e as suas problemáticas.
Como é habitual o feito
desportivo de Marta Paço não terá o relevo que merecia. As primeiras páginas,
mesmo no desporto, não são para estes indivíduos, as pessoas com deficiência
não têm "glamour", não enchem estádios e não fazem movimentar
milhões, não são colunáveis, são apenas, simplesmente, campeões, a sério.
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