Tem estado um dia cabaneiro, entre o nevoeiro e a chuva miúda, que nos mantém mais por casa do que gostamos aqui no Monte. Precisava de plantar dois pessegueiros e duas amendoeiras, mas a terra está demasiado carregada da chuva e ainda bem que assim é. A meteorologia prevê menos água para os próximos e ainda dará para as plantar, estão de raízes aconchegadas, aguentam-se bem.
Na vista de olhos pela imprensa
tropecei com um trabalho muito interessante no DN sobre a vida do Sr. José, o único habitante de uma aldeia da Serra do Barroso,
Casas da Serra.
Vive sozinho na aldeia desde
2007, a luz chegou em 2009 e a água ainda é da fonte.
Sim, estamos em 2021 a virar para
2022. Como se sabe o tempo tem muitas velocidades e o Sr. José está bem
habituado às velocidades do tempo, agora já ouve rádio, uma oferta de 2020.
Creio que olhamos para estas vidas com um sentimento entre a admiração pela coragem e resistência, admiração pelas assimetrias que ainda existem, e também com tristeza. Teria de ser assim, tão assim?
As oscilações da demografia não
explicam tudo. Décadas de políticas públicas que desertificaram o interior, que
mantiveram a pobreza e o desinvestimento no desenvolvimento do interior que empurram as
pessoas para o estrangeiro ou para o litoral deixando poucos que envelhecem e
partem. O Sr. José, também afirmou “Ainda pensei sair, mas fiquei. Estou
arrependido, se tivesse saído a vida teria sido muito melhor... é nisso que
penso muitas vezes."
O encerramento de escolas e
outros serviços públicos, muitas vezes com critérios apenas administrativos têm
dado um forte contributo. Reconheço a necessidade de ajustamentos que o tempo torna necessário, para dar um
exemplo, não podemos ter uma escola onde existe uma criança, nem sequer
cumpriria a sua função, mas não podemos promover abandono contribuir, neste
caso, para deixar o Sr. José sozinho em Casas da Serra.
Por falar em políticas públicas,
registei que na entrevista o Sr. José
afirmou que vota sempre, “é uma obrigação escolher".
É daquelas histórias de vida que
nos deixam pequeninos.
Bom Ano Sr. José.
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