sábado, 4 de dezembro de 2021

NEM NA SAÍDA

 Em 14/05 deixei este texto no blogue com o título, “Da série mete-me espécie”.

“Devem existir motivos poderosíssimos que me escaparão como a boa parte dos cidadãos, mas “mete-me espécie” que Eduardo Cabrita ainda seja Ministro da Administração Interna.

Devo dizer que não sou particular adepto do coro de vozes que sistemática e facilmente pedem a substituição de Ministros. Entendo que a responsabilidade deve exercer-se até ao fim dos mandatos.

No entanto o Ministro Cabrita já é um “estudo de caso”, funciona em modo “cada cavadela, cada minhoca”. Desde a polémica em torno das golas inflamáveis, do caso trágico passado no SEF, das trapalhadas em torno do SIRESP, da questão de Odemira e da forma como decorreram os festejos dos sportinguistas, para além de outras questões de menor visibilidade, o Ministro Cabrita tem mostrado uma consistente e coerente incompetência que impressiona, para além de intervenções públicas absolutamente desastradas e que nos destratam a inteligência.

Aliás e em termos de intervenções públicas, o Ministro revela aqui sim uma estranha "competência", é das pessoas que mais consegue falar sem dizer nada e quando diz mesmo alguma coisa … seria melhor ter ficado calado. Por outro lado, em algumas circunstâncias em que seria imperativo ouvir o Ministro ... fica calado.

A sua manutenção no executivo ou é teimosia do Primeiro-ministro ou terá outras razões que me escapam. Pensar que será “apenas” o cartão certo parece-me pouco para suportar o apoio e elogio a tanto desacerto. A avaliação de "excelente" produzida pelo Primeiro-ministro o Parlamento entra para a lista das grandes tiradas de humor político.

Numa altura em que estamos à beira de lançar um Plano de Resiliência e Recuperação que tem como um dos eixos críticos o ambiente, julgo que a manutenção de Eduardo Cabrita como Ministro da Administração Interna já coloca também uma questão séria de agressão ambiental.”

Cerca de um mês depois dá-se o trágico acidente na A6 que envolveu o carro em que seguia Eduardo Cabrita. Seis meses passados de um silêncio ensurdecedor o Ministério Público acusa o motorista pela condução a uma velocidade estimada de 163 hm/h e contradiz o Ministro quanto à sinalização da via. Como comentário, o Ministro afirmou ontem de manhã que era “um passageiro”. Quando pensamos que já pouca coisa nos pode surpreender ainda ouvimos esta obscenidade moral, ética e cívica por parte de uma personagem menor a quem, inexplicavelmente, foi atribuída uma responsabilidade maior para a qual, manifestamente, não está preparado.

Como não podia deixar de ser, e já devia ter acontecido há muito, Eduardo Cabrita apresentou a demissão.

Mas mesmo na saída o Ministro, sem um assomo de dignidade e mostrando a matéria gelatinosa de que a sua dimensão ética e cívica é feita ainda afirmou, sair porque não pode “permitir este aproveitamento político”. Notável.

Nem quando finalmente tomou a decisão que há muito tempo devia ter tomado, Eduardo Cabrita mostrou algo de que ninguém pode abdicar, dignidade.

Na despedida fez um estapafúrdio exercício de auto-elogio e de auto-vitimização. Se alguém lhe perguntasse, teria certamente respondido que saía de consciência tranquila e talvez acredite que se trata de uma licença sabática.

Figuras deste calibre não têm consciência e acreditam que somos tolos. Há muitas no Portugal dos Pequeninos.

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