Em 14/05 deixei este texto no blogue com o título, “Da série mete-me espécie”.
“Devem existir motivos
poderosíssimos que me escaparão como a boa parte dos cidadãos, mas “mete-me
espécie” que Eduardo Cabrita ainda seja Ministro da Administração Interna.
Devo dizer que não sou
particular adepto do coro de vozes que sistemática e facilmente pedem a
substituição de Ministros. Entendo que a responsabilidade deve exercer-se até
ao fim dos mandatos.
No entanto o Ministro Cabrita
já é um “estudo de caso”, funciona em modo “cada cavadela, cada minhoca”. Desde
a polémica em torno das golas inflamáveis, do caso trágico passado no SEF, das
trapalhadas em torno do SIRESP, da questão de Odemira e da forma como
decorreram os festejos dos sportinguistas, para além de outras questões de
menor visibilidade, o Ministro Cabrita tem mostrado uma consistente e coerente
incompetência que impressiona, para além de intervenções públicas absolutamente
desastradas e que nos destratam a inteligência.
Aliás e em termos de intervenções
públicas, o Ministro revela aqui sim uma estranha "competência", é
das pessoas que mais consegue falar sem dizer nada e quando diz mesmo alguma
coisa … seria melhor ter ficado calado. Por outro lado, em algumas
circunstâncias em que seria imperativo ouvir o Ministro ... fica calado.
A sua manutenção no executivo
ou é teimosia do Primeiro-ministro ou terá outras razões que me escapam. Pensar
que será “apenas” o cartão certo parece-me pouco para suportar o apoio e elogio
a tanto desacerto. A avaliação de "excelente" produzida pelo Primeiro-ministro
o Parlamento entra para a lista das grandes tiradas de humor político.
Numa altura em que estamos à
beira de lançar um Plano de Resiliência e Recuperação que tem como um dos eixos
críticos o ambiente, julgo que a manutenção de Eduardo Cabrita como Ministro da
Administração Interna já coloca também uma questão séria de agressão ambiental.”
Cerca de um mês depois dá-se o
trágico acidente na A6 que envolveu o carro em que seguia Eduardo Cabrita. Seis
meses passados de um silêncio ensurdecedor o Ministério Público acusa o motorista
pela condução a uma velocidade estimada de 163 hm/h e contradiz o Ministro
quanto à sinalização da via. Como comentário, o Ministro afirmou ontem de manhã
que era “um passageiro”. Quando pensamos que já pouca coisa nos pode
surpreender ainda ouvimos esta obscenidade moral, ética e cívica por parte de
uma personagem menor a quem, inexplicavelmente, foi atribuída uma responsabilidade
maior para a qual, manifestamente, não está preparado.
Como não podia deixar de ser, e
já devia ter acontecido há muito, Eduardo Cabrita apresentou a demissão.
Mas mesmo na saída o Ministro,
sem um assomo de dignidade e mostrando a matéria gelatinosa de que a sua
dimensão ética e cívica é feita ainda afirmou, sair porque não pode “permitir este
aproveitamento político”. Notável.
Nem quando finalmente tomou a
decisão que há muito tempo devia ter tomado, Eduardo Cabrita mostrou algo de
que ninguém pode abdicar, dignidade.
Na despedida fez um estapafúrdio
exercício de auto-elogio e de auto-vitimização. Se alguém lhe perguntasse,
teria certamente respondido que saía de consciência tranquila e talvez acredite que se trata de uma licença sabática.
Figuras deste calibre não têm
consciência e acreditam que somos tolos. Há muitas no Portugal dos Pequeninos.
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