O ensino secundário integra na oferta formativa quatro cursos científico-humanísticos, Ciências e Tecnologias, Línguas e Humanidades, Ciências Socioeconómicas e Artes Visuais.
De acordo com a imprensa de hoje apenas 214 das 594 escolas
públicas e privadas disponibilizam os quatro cursos. Só em 45.7% dos
concelhos (127) existe essa oferta, em 49 existem dois cursos e em 8 concelhos
apenas 1 sendo que 33 concelhos não têm ensino secundário.
O inverno demográfico não explica por si só este cenário
preocupante.
A extensão da escolaridade obrigatória fez, obviamente,
aumentar a população que frequenta o secundário. No entanto, políticas públicas,
incluindo na educação, promoveram a desertificação do interior e desencadearam
movimentos de encerramento de escolas que, tal como acontece com
outras áreas, trabalho, serviços ou saúde, são polos de fixação ou atracção de populações,
ou seja, a sua inexistência é mais uma justificação para as famílias, não
incluam filhos nos seus projectos de vida, abandonem essas áreas ou não se
sintam atraídas para nelas se instalar.
Neste contexto parecem-me desadequadas as afirmações de um
responsável da Direcção da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e
Escolas Públicas ao Observador, “Não há oferta porque não há procura”.
Vejamos um exemplo muitas vezes referido, sabemos que
procura por bibliotecas ou espaços culturais é potenciada pela sua existência,
não pela sua ausência. Dito de outra maneira, criar leitores ou consumidores de
bens de cultura passa por criar oferta e não por aguardar uma procura que
sustente a disponibilidade da oferta.
No caso da oferta do secundário, admito que em situações
muito particulares possa não chegar na sua globalidade a todos os concelhos (com a configuração
actual) o que exigirá apoios ajustados a deslocação e estadia de adolescentes e
jovens da sua zona de conforto familiar e de residência, sempre, recordo, em
situações de excepção.
Por outro lado, parece-me imprescindível que se repensem os critérios
relativos ao efectivo de mínimo exigido para abertura de turmas e fazer um
esforço para alargamento da oferta.
A sua inexistência pode implicar a desistência do prosseguimento de estudos ou, eventualmente, uma segunda escolha o que em qualquer das situações compromete a construção de projectos de vida pessoal mais sólidos, por maior qualificação e na área que se pretende e fomenta o abandono das famílias criando uma dificilmente ultrapassável circunstância, não procuram porque não há e não há porque não procuram.
Mais uma vez, as políticas públicas exigem opções, os
recursos são finitos, mas com regulação e competência, sem desperdício, também
sabemos que, simplificando, em educação não há despesa, há investimento.