Há uns dias no Público divulgava-se o Programa GAP lançado pala Fundação Gulbenkian. De forma sintética, trata-se de um programa de mentoria desenvolvido por mentores, jovens com formação superior, formados pela Teach for Portugal, estrutura nacional que integra uma ONG global e destinado a ajudar na recuperação de alunos com o processo de aprendizagem afectado pelo impacto da experiência de ensino não presencial do ano passado e pela dificuldade no acompanhamento das aulas por falta de equipamentos digitais ou ligação à net.
O programa é centrado em Matemática, Português e Inglês e iniciou-se
este ano lectivo tendo, por razões óbvias, procedido a ajustamentos realizando as
sessões de mentoria em modo não presencial. Para além das disciplinas
identificadas são trabalhadas competências “chave” como organização,
auto-regulação, bem-estar e motivação.
O programa envolve 1300 alunos de 41 escolas, escolhidas em
função peso do número de alunos no escalão A do Apoio Social Escolar, sendo que
50 dos alunos recebem apoio presencial em escolas que estão abertas.
Os testemunhos que se lêem na peça sugerem bons resultados
no trabalho que está a ser desenvolvido e apoiado pela Universidade do Minho.
Como é evidente, registo todas as iniciativas que possam
contribuir para minimizar ou erradicar problemas, mas já me falta convicção no
impacto do modelo mais habitualmente seguido.
Para cada constrangimento ou dificuldade percebida nas e
pelas escolas e com regularidade, aparece vindo de fora ou gerido de fora, um
Plano, um Projecto, um Programa, uma Iniciativa, as combinações são múltiplas,
destinado a essa problemática.
Durante as últimas décadas, perco a conta a planos, projectos,
programas, experiências inovadoras que chegaram às escolas para combater o
insucesso ou, pela positiva, promover o sucesso, promover a leitura e escrita,
promover a matemática, promover a educação científica, promover a educação
inclusiva, erradicar ou minimizar o bullying, a relação entre escola e pais e
encarregados de educação, promover a expressão artística e a criatividade,
promover comportamentos saudáveis e actividades desportivas, literacia
financeira, promover a inovação e as novas tecnologias, para não falar de
iniciativas mais "alternativas", por assim dizer, e que têm poderes
mágicos, parece. A lista enunciada é apenas exemplificativa.
Com demasiada frequência muitos destes projectos vêm de fora
das escolas, as origens são variadas, não chegam a envolver a gente das escolas,
esmagada pelo trabalho, burocracia e outros constrangimentos como, por exemplo,
assegurar da melhor forma possível o dia-a-dia do trabalho educativo que tem de
ser realizado.
Também com demasiada frequência muitos destes projectos
morrem de “morta matada” ou de “morte morrida”, não são avaliados de forma
robusta e dão umas fotografias ou vídeos que compõem o portfólio dos
organizadores e proporcionam uma experiência que se deseja positiva aos
intervenientes no tempo que durou, mas sem mais impacto.
Todavia, preciso de afirmar que muitos destes Planos,
Projectos, Inovações, etc. dão origem a trabalhos notáveis que, também com
frequência, não têm a divulgação e reconhecimento que todos os envolvidos
mereceriam.
Também demasiadas vezes estas iniciativas consomem recursos
com baixo retorno e ao serviço de múltiplas agendas.
Ponto.
Tenho para mim, que não podendo a escola responder a todas
as questões que afectam quem nelas passa o dia poderia, ainda assim, fazer mais
se os investimentos feitos no mundo à volta da escola e que lhe vem bater à
porta com propostas fossem canalizados para as escolas.
Com real autonomia, com mais recursos e com modelos
organizativos mais adequados as escolas poderiam fazer certamente mais e melhor
que quem vem de fora numa passagem transitória, mais ou menos longa, mas
transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de escrutínio, regulação e
avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares, auxiliares informados e formados
podem ter um papel importante em diferentes domínios.
Directores de turma com mais tempo para os alunos e menos
burocracia poderiam desenvolver trabalho útil em múltiplos aspectos do
comportamento e da aprendizagem.
Psicólogos e outros técnicos em número mais adequado, o que se verifica é inaceitável, poderiam acompanhar, promover e desenvolver múltiplas
acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.
Mediadores que promovessem iniciativas no âmbito da relação
entre escola, pais e comunidade seriam, a experiência mostra-o, um investimento
com retorno.
São apenas alguns exemplos de respostas com resultados
potenciais com um custo que talvez não seja superior aos custos de tantos
Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras destinadas a múltiplas
matérias e com custos associados de “produção” que já me têm embaraçado, mas a
verdade é que as agendas e o marketing têm custos.
Ainda este propósito, ficar embaraçado, uma experiência
pessoal.
Há largos anos estava na altura na Direcção-Geral do Ensino
Básico e foi-me pedido que apresentasse numa escola do 1º ciclo um Projecto em
desenvolvimento pela Direcção-Geral destinado ao ensino de português a crianças
de famílias oriundas dos PALOP que aprendiam em português na escola e falavam crioulo
em casa. Apresentei o Projecto o melhor que fui capaz aos professores da escola
e no fim alguém me disse de uma forma muito simpática, “Colega, o Projecto é
muito interessante, mas sabe, já temos 24 Projectos na escola, não podemos
fazer mais.”
Na verdade, a Projectite, sobretudo vinda de fora, é uma
opção com pouco potencial apesar, insisto, das boas experiências que também
conheço.
Sem comentários:
Enviar um comentário